O Brasil conquista o mundo
A Copa de 1958 bateu novo recorde de inscrições. Cinqüenta e três países disputariam as eliminatórias. Uma das grandes notícias foi o retorno da Argentina à competição.
O Brasil se classificou ao empatar em zero a zero com o Peru em Lima.
Em seguida, derrotou os peruanos no Maracanã por 1 a 0, com um gol de Didi cobrando falta com um chute de curva, uma de suas famosas "folhas secas".
Ao término das eliminatórias, houve duas surpresas: os bicampeões Uruguai e Itália não conseguiram se classificar para o Mundial.
Vicente Feola
Para o Mundial da Suécia, o comando da delegação foi entregue a Paulo Machado de Carvalho e o comando técnico ficou por conta de Vicente Feola, que convocou um grupo de jogadores de alta qualidade.
Entre os destaques brasileiros estava o goleiro Gilmar, os zagueiros De Sordi, Belini e o experiente Nilton Santos, que já estava em sua terceira Copa do Mundo.
No meio-de-campo, Dino Sani, Didi e Moacir facilitavam a decisão do técnico. E no ataque, o excelente ponta do Flamengo Joel, o valente Mazola, o artilheiro Dida e o ponta Zagalo.
Na reserva, craques do quilate de Djalma Santos, Zito, Vavá, Pepe, o infernal ponta-direita do Botafogo, Mané Garrincha, e também o garoto Pelé, de apenas 17 anos, do Santos F. C., a grande promessa do futebol brasileiro.
Em 1958 o regulamento foi novamente descomplicado. Os 16 países classificados seriam divididos em quatro grupos de quatro que jogariam entre si, com os dois primeiros passando para as quartas-de-final.
O Brasil ficou no grupo 4, o mais forte de todos. Além da União Soviética, campeã olímpica de 56, o grupo tinha ainda a Inglaterra e a Áustria.
A Campanha do titulo
No dia 8 de junho, o Brasil entrava em campo na cidade de Udevalla para enfrentar a Áustria.
O time brasileiro começou acanhado. Aos poucos, o nervosismo com o gol que não saía, tomou conta da equipe. Finalmente, aos 38 minutos, Mazola abriu o placar.
No começo do segundo tempo, o lateral Nilton Santos avançou, para desespero do técnico Feola, e acabou marcando o segundo gol do Brasil. No finalzinho, um outro gol de Mazola definiu o placar. O Brasil vencia o jogo de estréia por 3 a 0, sem, entretanto, convencer a torcida.
Os soviéticos, favoritos ao título, também decepcionaram ao empatar na estréia por 2 a 2 com os ingleses.
No segundo jogo, contra a Inglaterra, em Gotemburgo, Vavá foi escalado em substituição a Dida. O Brasil jogou melhor, mas não saiu do zero a zero. Era evidente que o time não ia bem. O Brasil teria que decidir a classificação com os soviéticos.
Uma controvertida história diz que jogadores mais experientes como Gilmar e Nilton Santos exigiram a escalação de Garrincha, Zito e do garoto Pelé.
Em entrevista à BBC, o ex-goleiro da seleção contou o episódio: "Não houve imposição. Era claro que o time não ia bem. Vicente Feola conversava sempre conosco e falamos sobre a escalação. Ele nos perguntou se achávamos se Garrincha e Pelé dariam conta de tão grande responsabilidade e simplesmente dissemos que sim, pois os conhecíamos de nossos times."
"Alguns jogadores, como o Mazola, estavam nitidamente mais preocupados em se poupar, pois já tinham assinado contratos com times europeus. Outros, como o Dida e o Joel, pareciam não suportar o peso da camisa", completou.
Vavá faz a diferença
Contra a URSS, o Brasil começou arrasador. Em menos de dois minutos de jogo, Garrincha e Pelé já tinham carimbado a trave soviética. Antes que os adversários se recuperassem, Vavá abriu o marcador aos 2 minutos de jogo.
A União Soviética se recompôs e o primeiro tempo terminou em 1 a 0 para o Brasil. Aos 31 minutos do segundo tempo, novamente Vavá marcava para o Brasil, fechando o placar que garantiu a classificação do Brasil.
A seleção brasileira tinha encontrado seu melhor futebol e voltara a jogar fácil. Nas quartas-de-final, o Brasil jogaria contra o País de Gales. Um jogo difícil, no qual o gol da vitória brasileira só saiu aos 26 minutos do segundo tempo, marcado pelo garoto Pelé.
Este seria o primeiro gol de Pelé numa Copa do Mundo. Em depoimento ao Museu da Imagem e do Som, Pelé disse que entrou mais confiante contra os galeses, com a certeza de que poderia jogar bem e até marcar gols.
Na semifinal, o Brasil teria que enfrentar a França, que tinha o artilheiro da Copa, Just Fontaine. Àquela altura, o atacante francês já tinha marcado oito gols em apenas quatro jogos.
Os franceses não foram páreo para os brasileiros. Antes de completar 2 minutos, Vavá abriu o placar. Just Fontaine empatou em seguida.
No ataque brasileiro, Garrincha driblava sem dificuldade seu marcador pela direita, cruzando na área francesa para Vavá e Pelé. Mas o segundo gol só saiu quase aos 40 minutos pelos pés de Didi.
No segundo tempo só deu Brasil e o garoto Pelé acabou desequilibrando o jogo. Pelé marcou aos 8, 19 aos 31 minutos, fazendo Brasil 5, França 1.
A Final
No domingo 29 de junho, o Brasil entrava no estádio Solna Raasunda, em Estocolmo, para enfrentar os anfitriões.
Logo de saída, Liedholm aproveitou uma falha da defesa brasileira e fez Suécia 1 a 0.
O gol trouxe de volta o fantasma da derrota de 50. Mas o meio-campo Didi foi buscar a bola no fundo da rede brasileira e de cabeça erguida a levou debaixo do braço para a nova saída.
Em entrevista à BBC, Didi contou que sua intenção era "acalmar o time, lembrando a todos, principalmente a seus companheiros de Botafogo, Nilton Santos e Garrincha, que anteriormente seu clube tinha vencido facilmente os suecos e que o Brasil era o melhor time em campo."
Quatro minutos depois, Vavá empatou o jogo. Os dois repetiriam a jogada várias vezes e, aos 32 minutos, a bola voltaria ao fundo da rede sueca. Brasil 2 a 1, com outro gol de Vavá.
No segundo tempo, Pelé e Zagalo fizeram o Brasil respirar aliviado. Simonsson ainda diminui para os donos da casa, mas a Suécia não conseguiu evitar a derrota. No último minuto de jogo novamente Pelé fechou a goleada, Brasil 5, Suécia 2.
Brasil campeão do mundo pela primeira vez. O capitão Belini ergueu a taça Jules Rimet com as duas mãos, consagrando o gesto que passaria a simbolizar a conquista do mundial.
A nova geração de craques enchia de otimismo a torcida brasileira e ajudava a projetar o Brasil como a grande potência do futebol mundial.
A França acabou em terceiro lugar. Os franceses tiveram o artilheiro da Copa. Com 13 gols, Just Fontaine estabeleceu um recorde absoluto, que permanece até hoje. Nunca, em tempo algum, ninguém marcou mais gols do que Fontaine num só mundial.
Seleção brasileira: Gilmar, Castilho, De Sordi, Belini, Orlando, Zózimo, Nilton Santos, Djalma Santos, Zito Dino Sani, Moacir, Didi, Joel, Garrincha, Dida, Pelé, Mazola, Zagalo e Pepe.
Estatísticas
Período: de 08 a 29 de junho de 1958
Total de jogos: 35
Gols marcados: 126
Média de gols: 3,6 por partida
Artilheiro: Just Fontaine (França) - 13 gols.
Público total: 868.000 pagantes
Média de público: 24.800 pagantes
Campeão: Brasil
GRUPO A |
08/06 |
Irlanda do Norte |
1 x 0 |
Tchecoslováquia |
Halmstad |
08/06 |
Alemanha Ocidental |
3 x 1 |
Argentina |
Malmoe |
11/06 |
Argentina |
3 x 1 |
Irlanda do Norte |
Halmstad |
11/06 |
Alemanha Ocidental |
2 x 2 |
Tchecoslováquia |
Halsingborg |
15/06 |
Alemanha Ocidental |
2 x 2 |
Irlanda do Norte |
Malmoe |
15/06 |
Tchecoslováquia |
6 x 1 |
Argentina |
Halsingborg |
17/06 |
(*) Irlanda Norte |
2 x 1 |
Tchecoslováquia |
Malmoe |
GRUPO B |
08/06 |
Escócia |
1 x 1 |
Iugoslávia |
Vasteraas |
08/06 |
França |
7 x 3 |
Paraguai |
Norrkoping |
11/06 |
Paraguai |
3 x 2 |
Escócia |
Norrkoping |
11/06 |
Iugoslávia |
3 x 2 |
França |
Vasteraas |
15/06 |
França |
2 x 1 |
Escócia |
Orebro |
15/06 |
Paraguai |
3 x 3 |
Iugoslávia |
Eskilstuna |
GRUPO C |
08/06 |
Suécia |
3 x 0 |
México |
Solna |
08/06 |
Hungria |
1 x 1 |
País de Gales |
Sandviken |
11/06 |
México |
1 x 1 |
País de Gales |
Solna |
12/06 |
Suécia |
2 x 1 |
Hungria |
Solna |
15/06 |
Suécia |
0 x 0 |
País de Gales |
Solna |
15/06 |
Hungria |
4 x 0 |
México |
Sandviken |
17/06 |
(*) País de Gales |
2 x 1 |
Hungria |
Malmoe |
GRUPO D |
08/06 |
Brasil |
3 x 0 |
Áustria |
Uddevalla |
08/06 |
Inglaterra |
2 x 2 |
União Soviética |
Gotemborg |
11/06 |
União Soviética |
2 x 0 |
Áustria |
Boraas |
11/06 |
Brasil |
0 x 0 |
Inglaterra |
Gotemborg |
15/06 |
Áustria |
2 x 2 |
Inglaterra |
Boraas |
15/06 |
Brasil |
2 x 0 |
União Soviética |
Gotemborg |
17/06 |
(*) União Soviética |
1 x 0 |
Inglaterra |
Gotemborg |
QUARTAS-DE-FINAL |
19/06 |
Suécia |
2 x 0 |
União Soviética |
Solna |
19/06 |
Alemanha Ocidental |
1 x 0 |
Iugoslávia |
Malmoe |
19/06 |
França |
4 x 0 |
Irlanda do Norte |
Norrkoping |
19/06 |
Brasil |
1 x 0 |
País de Gales |
Gotemborg |
SEMIFINAL |
24/06 |
Brasil |
5 x 2 |
França |
Solna |
24/06 |
Suécia |
3 x 1 |
Alemanha Ocidental |
Gotemborg |
Disp. 3o. Lugar |
26/06 |
França |
6 x 3 |
Alemanha Ocidental |
Gotemborg |
FINAL |
29/06 |
Brasil |
5 x 2 |
Suécia |
Solna |
(*) Jogos desempate. Com o resultado o Brasil ficou com o título da Copa do Mundo de 1958 (Taça Jules Rimet). |