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Jornalista Clemente Comandulli O Troféu Clemente Comandulli
Clemente Comandulli na neve de Curitiba de 1975, ano em que viria a falecer, meses após o Colorado conquistar o bicampeonato da Taça Cidade de Curitiba, redescoberta, ao lado, pela filha Lia, mais de 35 anos depois.

Em Antonina, “Capital Capelista”, como carinhosamente a chamava, nasceu Clemente Ivan Francisco Comandulli, em 23 de novembro de 1927, poucos meses antes de nevar fortemente em Curitiba, onde construiria uma sólida carreira de cronista esportivo.

Antes de dedicar-se exclusivamente ao jornalismo, Comandulli foi, nos anos 40 e 50, jogador de futebol amador no Coritiba e no Clube Atlético Ferroviário (CAF), fundador da Escola de Samba “Não Agite” (*1) e dentista (*2).

Como ponta-direita da equipe de aspirantes do CAF, teve participações no time principal, que se consagraria Campeão do Centenário Paranaense, em 1953, sob o comando do técnico João Lima.

Em recente entrevista, o seu antigo companheiro de equipe Ismael Cordeiro, o compositor “Maé da Cuíca”, fundador da Escola de Samba Colorado, lembrou que Clemente era solicitado quando fosse necessário um líder fazer uso da palavra pelo grupo.

No final dos anos 40, Clemente Comandulli iniciou a sua vida jornalística, como redator esportivo da rádio Guairacá, sob o pseudônimo de Ivan Silva, conforme confirmado por seu ex-colega João Feder. Renato Mazânek, em livro recentemente publicado, intitulado “Ondas curta e média sem delonga”, sintetiza bem essa época na vida do Comandulli, ao referir-se a ele como um dos “donos da bola”, “com atuações marcantes”, “que representaram as primeiras safras das transmissões esportivas”. Comandulli atuou também como comentarista na rádio Guairacá, até meados dos anos 60. Em seguida, até meados dos anos 70 comentou jogos para as Rádios Emissora Paranaense, Rádio Clube Paranaense (PRB2), Colombo e Universo, bem como na Emissora ZYZ-9.

Na televisão, no final dos anos 60 e início dos anos 70, Comandulli fez parte da equipe de comentaristas da versão paranaense da Grande Resenha Facit, transmitida pelo canal 6 e comandada por Vinícius Coelho, que contava com o mesmo patrocinador do programa carioca, do qual participavam personalidades como Nelson Rodrigues, Armando Nogueira e João Saldanha.

Em 1950, foi redator-chefe do jornal Desportos Ilustrados, pelo qual cobriu a Copa do Mundo de 1950 e os demais campeonatos desse "Ano Santo".

Nos anos 50, foi redator do Paraná Esportivo (Curitiba), ocasião em que se tornaria correspondente de A Gazeta Esportiva (São Paulo). A partir de janeiro de 1958, começou também a assinar a coluna “Tópicos do Dia”, até meados dos anos 60 para o Paraná Esportivo.

Por esse jornal, registrou jogos sensacionais entre equipes paranaenses e lendários esquadrões de futebol, alguns dos quais contavam com astros como Pelé (Santos), Garrincha (Botafogo-RJ) ou Spencer (Peñarol). Em novembro de 1961, pelo Paraná Esportivo, acompanhou o CAF a Montevidéu, naquela que seria a segunda excursão de um clube paranaense ao exterior. Por esse veículo, escreveu também sobre a experiência de clubes paranaenses na Taça Brasil, inclusive sobre o polêmico “jogo da moeda”, entre Coritiba e Grêmio.

Após 1964 e até dezembro de 1975, foi redator e editor do caderno esportivo da Gazeta do Povo e correspondente do Jornal da Tarde (São Paulo), do Estadão (São Paulo) e da Última Hora (São Paulo).

Na Gazeta do Povo, ele teve duas colunas: “Futebol da Vida” e “Regra Três”. Por esse veículo, escreveu sobre diversos campeonatos estaduais, a participação de clubes paranaenses no Torneio Roberto Gomes Pedrosa (TGP), o jogo do Santos contra o Coritiba, pouco antes do milésimo gol de Pelé, as Copas de 1966 e 1970, entre outros acontecimentos da época. Na segunda metade dos anos 60, também escreveu sobre o TGP para a revista Paraná Sport.

Comandulli integrou, nos ano 70, a equipe de redatores da revista ilustrada Esporte Paranaense e, em diversas ocasiões, fez parte do júri de “cobras” que elegeu os “Bolas de Prata” da Placar Magazine.

Foi, ainda, tesoureiro do Sindicato dos Jornalistas Profissionais e assessor de imprensa do Palácio, no primeiro mandato do Governador Ney Braga. Foi, também, assessor de imprensa da Federação Paranaense de Futebol (FPF), nos anos 70, da qual recebeu o título de Benemérito do Futebol Paranaense, a mais alta honraria, concedida somente àqueles que prestam relevantes serviços ao futebol do Paraná.

Em 1972, Comandulli foi um dos responsáveis pela reestruturação da Associação dos Cronistas Esportivos do Paraná (ACEP), tornando essa entidade forte, e representando-a, em 1974, na fundação da Associação Brasileira de Cronistas Esportivos (ABRACE). Após sofrer derrame no Durival Britto, subsede da Copa de 1950, enquanto acompanhava os treinos do Colorado Esporte Clube, sucessor do CAF, pelo qual havia jogado, veio a falecer em 30 de dezembro de 1975, poucos meses após nevar, novamente, em Curitiba.

A imprensa paranaense chorou a morte do colega, conforme retratado em caricatura de Xixo Fernandes e, em dia chuvoso, compareceu em massa para despedir-se.

Em janeiro de 1976, a partir de proposta do Colorado, a FPF decidiu, com o apoio do seu Presidente Esperidião Feres, prestar homenagem póstuma ao renomado jornalista, instituindo a “Taça Clemente Comandulli”, outrora chamada de “Taça Cidade de Curitiba”.

A “Taça Cidade de Curitiba” havia sido criada em fevereiro de 1974, pelo Presidente da FPF, José Milani, tendo frisado que ela seria permanente e de posse definitiva. A Taça conquistada pelo Colorado, em seu bicampeonato de 1975, foi redescoberta, mais de 35 anos depois, pela Lia, filha do cronista, no Estádio Durival Britto, conforme foto acima.

A “Taça Clemente Comandulli” foi subvencionada pela Loteria Esportiva Federal, mediante acerto entre o presidente FPF e o superintendente Mozart di Giorgio da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), antecessora da CBF. Ela foi disputada até 1978.

Entre os anos 70 e 90, Clemente Comandulli também foi nome de vários torneios de futebol infanto juvenis e amadores em Curitiba, disputados pelos principais clubes de futebol da metrópole.

Ainda como homenagens póstumas, os cronistas esportivos Carneiro Neto e Raul Mazza do Nascimento ascenderam à presidência da ACEP, respectivamente em 1976 e 1978, por chapas intituladas “Clemente Comandulli”.

Há, também, duas ruas com o nome dele: a Rua Jornalista Clemente Comandulli, no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba; e a Rua Clemente Comandulli, no bairro de Tatuapé, em São Paulo, a 8 km do Estádio Itaquerão, onde será realizada a abertura da Copa do Mundo de 2014, ano em que a Taça Cidade de Curitiba completará 40 anos.

APELO Caso queira compartilhar alguma informação ou material relacionado a Clemente Comandulli, favor entrar em contato conosco neste e-mail: lia.comandulli(at)gmail.com


Notas:
- (*1) De acordo com a 5ª edição da Revista Corí 70, apesar adepto do Ferroviário, Comandulli, ao lado de outros célebres colorados, que frequentavam os bailes de carnaval de salão do Coritiba, fundaria a Escola de Samba “Não Agite”, entre 1948 e 1949.
- (*2) Formado em Odontologia na Universidade Federal do Paraná, pela turma de 1959.

Texto: Lia Comandulli e Adriano Fonseca
Curitiba, redigido em 02/06/12 e revisado em 04/02/13.
Publicação autorizada para o www.campeoesdofutebol.com.br.