Uma Espinha na Garganta dos Azulinos
Para muitos, foi a maior vitória alcançada pelo Paysandu em toda sua história, os 7 x 0 sobre o Clube do Remo. Realmente, vencer um clássico como o Paysandu x Remo por um placar tão grande, em jogo de Campeonato não deixa de ser um fato significante, ainda mais se levarmos em conta a grande rivalidade existente entre os dois grandes clubes paraenses.
A vitória de 7 x 0 do Paysandu sobre o Clube do Remo ainda hoje é lembrada por todos como se tivesse acontecido ontem e já são passados mais de 50 anos daquela partida, sem que se repita outro placar igual entre as duas equipes.
É bom lembrar os 7 x 0, lendo-se a descrição de "A Vanguarda".
PAYSANDU 7 x 0 CLUBE DO REMO
Data : 22 de julho de 1945
Representante da FPD: Tenente Euclides Rodrigues (Júlio César E. Clube).
Campo: Antonio Baena (Remo)
Juiz: Alberto Monard da Gama Malcher
Bandeirinhas: Antonio Francisco Monteiro e Madson Leite Vasconcelos
Anormalidades: Expulsos Arleto e Vicente, aos 43 minutos do primeiro tempo.
Renda: Cr$ 25.000,00
Gols: Hélio, aos 37 minutos do primeiro tempo; Farias, a 1 minuto; Soiá, aos 4, aos 9 e aos 20; Hélio, aos 24; e Nascimento, aos 44 minutos do segundo tempo.
Caráter: 1o Turno do Campeonato Paraense de Futebol da 1o divisão de 1945
PAYSANDU: Palmério, Izan e Athenagoras; Mariano, Manoel Pedro e Nascimento; Arleto, Hélio, Guimarães, Farias e Soiá.
REMO: Tico-Tico, Jesus e Expedito; Mariosinho, Rubens e Vicente; Monard, Jiju, Jango, Capi e Boró.
ALVI-AZUIS DERAM BAILE
(A Vanguarda, 23.07.45)
Quem apreciou a peleja de ontem desde os seus primeiros minutos há de ter notado o fracasso absoluto, total, decepcionante, que constituiu a esquadra do Remo no segundo período, após ter realizado um promissor primeiro tempo, dando sérios trabalhos a defesa do Paysandu para com a ausência de um só elemento, entregar-se de maneira envergonhante, humilhando-se frente ao seu adversário de todos os tempos , o Paysandu.
O marcador final não diz absolutamente o que foi o primeiro período da luta, quando escoou-se o tempo com uma bola apenas de diferença e destacava-se no conjunto dos times que iríamos assistir um belo espetáculo futebolístico, que, se não mostra-se técnica, apresentava pelo menos vibração e entusiasmo.
Tal não se deu, entretanto. O Remo, com um "Buraco" na linha média resultante da saída de Vicente, entregou-se logo nos primeiros minutos do segundo tempo. E a turma da Curuzu não conversou. Tirou partido da situação, como qualquer um faria. Meteu gol, e muito. Depois procurou debochar, humilhando ainda mais o time de Antonio Baena que deixou-se abater por alto escore, numa verdadeira debacle para todo onze.
Apreciação da luta
Quando Malcher deu início ao prélio, os quadros procuraram a se empregar de maneira admirável. Com técnica restrita, mas com disposição de pelo menos, fazer uma boa demonstração de fibra. O Remo passou a fazer pressão séria. Forte. E o arco de Palmério passou por maus bocados, pois, nada menos de dois escanteios foram dados, seguidos por uns "melés" seríssimos, que quase abriram a contagem. O público azulino passou a vibrar de entusiasmo. Notava-se mais harmonia e mais direção no quadro alvi-azulino, mais harmonia e mais direção no quadro alvi-azul, mas a gente remista estava possuída de maior vontade. Parece que, não confiando em sua produção física, os atletas remistas davam tudo nos primeiros momentos, para consolidar a vantagem nos minutos primeiros, esquecidos talvez de que o jogo é atuado em 90 minutos.
Entretanto, a pressão do Remo, não nada para o "placard" pois só uma bola foi atirada ao arco, em arremate de Jiju que bateu na trave lateral.
O quadro alvi-celeste não se entregava, porém. Apesar do embaralhamento de certos momentos da defesa. Izan policiava Jango de maneira espetacular e Nascimento atuava um pouca recuado para auxiliar Athê.
Em 30 minutos de luta, o Remo fez maior pressão, ainda. Atacava em denodo, procurando embaralhar os adversários da defesa. Mas, com o arremesso de Farias a Arleto, o ponteiro direito do Paysandu que atuava em forma esplêndida, chamou Expedito e deu alto a Hélio. O centroavante pulou com Jesus no lance. A bola caiu-lhe nos pés e Hélio arrematou sem apelo. Era a abertura da contagem.
Após o lance de Hélio com a partida quase no final do primeiro tempo, Arleto e Vicente trocaram "impressões". Foi um lance rápido, esse do médio remista e do ponta alvi-azul. Não vimos a razão, pois o jogo se desenvolvia em outra parte do gramado e foi "sururu" sem bola. Nem mesmo Malcher Filho apercebeu-se do incidente, senão depois, quando as autoridades envadiram o campo para conter os dois jogadores. Serenados os ânimos, ambos foram expulsos de campo, já com a primeira parte da pugna em seus minutos finais.
No segundo tempo, o Remo cometeu a pior "gafe" para um quadro futebolístico. Ao invés de cobrir o claro deixado por Vicente na linha média com qualquer jogador de ataque, persistiu em continuar com dois homens na intermediária e cinco na linha. Se a saída de Vicente iria a deixar um autêntico "buraco" técnico, a não inclusão de outro jogador no lugar do excelente médio pôs a defesa andando às tontas, com o barco dando "água" de um lado.
Para o Paysandu, aquilo foi de "colher" naturalmente. E, com apenas 1 minuto de jogo, Farias aumentou a contagem. Mais tarde, passados uns cinco minutos, outro tento do Paysandu. Era a consolidação da vitória. Passaram os alvi-azuis a dar "baile". Baile com música e tudo, como se diz na gíria. Todos os ataques pela direita com Farias fazendo de extrema e meia. Expedito parou. Era impossível atuar sozinho, mormente tendo em vista que o grande zagueiro ressentiu-se da atuação de Jesus. Foi uma debacle do Remo. O Paysandu passou a dominar o seu antagonista, não procurando encurralá-la mas abrindo o jogo para mais se fazer sentir o "claro" da defesa azul escura, e com isso, veio o quarto tento, o quinto, o sexto, o sétimo, feito por Nascimento após fintar três adversários dentro da área. Ninguém mais se entendia no quadro remista. Tontos , completamente tontos, os atletas da camisola azul-marinho.
Marcou a peleja de ontem, não só uma decepcionante atuação dos azulinos, mas, também, o maior escore até hoje verificado na história do "Clássico dos Clássicos". 7 x 0 foi muito, não há dúvida. Mas, acontece que o Paysandu tirou partido da situação. E, daí, o valor do quadro da camisa bicolor que ontem reabilitou-se amplamente no conceito de seus inúmeros admiradores. Foi uma autêntica goleada. Mesmo sem um futebol cem por cento, o Paysandu levou a melhor de maneira a não deixar dúvidas.
Com a vitória de ontem, o Paysandu deu mais um passo à campanha do tetracampeonato paraense de futebol.
OS QUADROS
Time do Paysandu está fazendo a defesa cerrada. Mesmo ainda nos primeiros passos, o quadro campeão já demonstra melhor produção do que nos dois jogos atrás. Nota-se uma defesa mais homogênea e um ataque pecando em certos momentos pelo "catedratismo", mas positivo e capaz de grandes arrancadas. Palmério, ontem, não teve trabalho. Mas no primeiro tempo em que predominou forte pressão azulina, o goleiro do "Papão" não teve tempo de se exibir. Izan fez a melhor partida em toda sua vida futebolística. Anulou Jango, não dando oportunidade ao comandante remista de fazer um só arremesso.
A linha média, homogênea. Na turma da vanguarda, sobressaíram todos, inclusive Hélio, voltando a forma aos poucos. Arleto estava em dia de gala. Guimarães foi o cérebro do ataque.
O time do Remo pecou por apresentar Mariozinho e Rubens na linha intermediária. O primeiro, um médio de poucos recursos e o segundo, fora de forma física. Caindo de produção no segundo tempo, Rubens comprometeu. Tico-Tico falhou em inúmeros lances. A zaga, fraca. Na vanguarda do Remo, apenas Capi dava combate e Monard demonstrava boa vontade. O resto nulo. Jango comprometeu.
A ARBRITAGEM DE MALCHER
Malcher atuou bem. Não foi culpado do incidente Vicente/Arleto. Malcher procurou evitar o jogo violento e conseguiu, de certa maneira. Teve algumas falhas, mas que não tiveram influência no marcador final e nem no cômputo geral de sua arbitragem que foi honesta e criteriosa.
Por
Sidney Barbosa da Silva.
Fonte: Livro "A História do Paysandu Sport Club 1914 - 1995", de Ferreira da Costa.
Página adicionada em 26/Julho/2010.