História do Futebol no Maranhão - Parte 2

A consolidação do futebol no estado.

 


Loja Campeões do Futebol


Em 1910 é inaugurada a Escola de Aprendizes Artífices em São Luis, (hoje CEFET-MA instalada na Praça da República, em prédio ocupado pelo Ministério da Agricultura). Escola profissional, tinha como mestres: Almir Augusto Valente, Vicente Ferreira Maia, Hermelina de Souza Martins, Cesário dos Santos Véras, Alberto Estavam dos Reis, Alexandre Gonçalves Véras, Eduardo Souza Marques e Nestor do Espírito Santo. Como não poderia deixar de ser, entre seus alunos havia grande interesse pelas práticas esportivas, e dentre, elas, pelo futebol.

Entre os anos de 1910–1914, o esporte maranhense, em especial o futebol, passa por uma profunda crise – a primeira – com clubes se dissolvendo em São Luis, e seus sócios formando outras agremiações, não apenas para a prática de futebol. O Clube Euterpe é fechado (1910), surgindo em seu lugar o Casino Maranhense (1911).

Graças ao empenho do cônsul inglês, a partir de 1915, houve um que renascimento dos esportes em Maranhão. Os estudantes movimentam-se para reabilitar o futebol em São Luis: "Um esforçado grupo de rapazes, no intuito de elevar o sport entre nós, resolvel adquirir o campo do Fabril, para as pugnas do elevado jogo britânico, 'foot-ball'. Existe grande animação nos preparativos, entre os sportamen, a idéia do Campeonato Maranhense de Foot-ball o qual será disputado em 15 de novembro, contando ao 'team' vencedor, 11 medalhas de ouro" ("O Jornal", 31 de julho de 1915).

O primeiro encontro desses abnegados "sportistas" aconteceu logo em seguida em agosto: "FOOT-BALL - No grond da Fabril, jogaram hontem, um match de trenagem. Alguns moços de nosso escol, que cogitam de fundar dois clubs desse sport, afim de diliciar o público maranhense, com algumas de suas partidas" ("O Estado", 9 de agosto de 1915). Esses estudantes uniram o agradável - reorganizar os "sports" no Maranhão - ao útil, chamando a atenção da sociedade para o movimento que iniciavam. Juntaram-se à Maçonaria, oferecendo-se para realizar uma partida de futebol, em benefício dos flagelados da grande seca de 1914-1915, pois as lojas maçônicas desta capital nomearam comissões com o fim de arrecadar fundos para socorrer os flagelados. Dentre as atividades programadas - seção de cinema, passeios marítimos - haveria um jogo de futebol, a ser realizado no mês seguinte: "Um grupo de moços de nossa melhor sociedade offerecem ao comité Pró-flagelados, uma partida de foot-ball, entregando-lhe a renda verificada. Essa partida terá lugar no grond da Fabril e será opportunamente anunciada" ("O Estado", 13 de agosto de 1915).

Fundação de novos clubes

Em função do movimento em prol dos flagelados dos estados vizinhos - Ceará e Piauí - reuniram-se na Cervejaria Maranhense, localizada na Praça João Lisboa de São Luis, os idealizadores do Campeonato Maranhense de Football, para a organização do grande "match" que pretendiam realizar ("O Jornal", 14 de agosto de 1915). Nessa reunião ficou resolvido que "... na impossibilidade de fundação do Clube, se organizem dois 'team' denominados Franco Alemão - que terá de se bater em benefício dos flagelados da seca. Ficam assim compostos os team. Presidente: Carlos Alberto Moreira; Thesoureiro: Affonso Guillon Nunes; Secretário: Hugo Burnet. - Team Francez - Forwards - Gastão Vieira; Trajano Lebre, Carlos Moreira, Hugo Burnett, Manoel Borges, Antonio Ferreira; Half-backs - Carlos Leite; Antonio Cunha;Backs - Affonso Guillon Nunes; João Torres, dr.;Goal-keeper - Antonio Carvalho Branco; Captain - Carlos Moreira.; Team Allemão - Forwards - Nestor Madureira; Gentil Silva, José Souza; José Cantanhede; Maralteno Travassos; Half-backs - João Guedes; Antonio Paiva; Backs - Julio Gallas; Raul Andrade; Goal-keeper - Albino Faria; Captain - José Souza". ("O Jornal", 14 de agosto de 1915).

No Domingo, dia 15 de agosto, foi realizado um jogo-treino: "Foot Ball - Conforme noticiamos, realizou-se hontem, às 16 horas, o primeiro match de trenagem da série instituída. O público já principia a tomar interesse pelas partidas, tanto que a concorrência foi animadora." ("O Estado", 16 de agosto de 1915). Estavam envolvidos os alunos do Liceu Maranhense, do colégio Marista Maranhense e do Instituto Maranhense (este, inaugurado um ano antes). De São Luis.

Segundo Martins (1989), " ... promoveram sessões, usando as próprias salas de aula, estimulados pelos mestres. Graças a essas reuniões, surgiram os quadros do Brasil F. Club, do S. Luís F. Club, do Maranhão Esporte Club, e do Aliança F. Club. Essas entidades, aos poucos, foram agrupando-se, tornandose clubes. A cada dia, os estudantes melhor se integravam, e para exercitar-se utilizavam o velho 'field' da Fabril, que tinha sido desativado pela FAC. Estávamos com o campo da rua Grande muito mal, mato tomando conta de todas as dependências, inclusive das arquibancadas." (p. 328).

Nesta seqüência de eventos, foi realizado um jogo entre os estudantes dos Maristas contra os do Brasil F. Club. Para poder assistir à partida, os espectadores deveriam se apresentar vestidos decentemente:
"FOOT-BALL - "Amanhã, às 8 horas, vai jogar uma partida no ground da Fabril contra o team dos irmãos Maristas um outro do club 'Brasil'. A entrada será franca a todas as pessoas que se apresentarem decentemente vestidas". ("O Estado", 28 de agosto de 1915).

O movimento estudantil havia ganho as ruas, tudo se fazendo para reanimar o futebol. Gentil Silva tinha retornado do Amazonas - onde havia trabalhado pelo esporte amazonense, ajudando ao Manaós Sporting Club - e integra-se ao movimento estudantil, tendo-o acompanhado nessa jornada um caixeiro viajante conhecido como "Zé Italiano", muito estimado pelos estudantes. Dessa união, foi fundado o "Guarani Esporte Clube", que recebeu esse nome do proprietário do "Bar Guarani", sr. Gasparinho. É que as reuniões eram realizadas neste bar, situado na esquina da rua Grande com a Godofredo Viana, em frente ao cine Éden, conhecidos locais de São Luis. Formaram-se duas onzenas, denominadas "Alemão" e "Francês", formando-se, também, duas torcidas, uma apoiando os "aliados", e a outra, formada pelos "germanófilos". Essa torcida ainda tinha o incentivo dos tripulantes dos navios alemães, abrigados no porto da cidade, devido à Primeira Guerra Mundial.

Neste ano, outra partida de futebol fora disputada no dia 19 de setembro, desta vez entre os times do Brazil Foot-Ball Club 0 X 1 São Luiz Foot-Ball Club, no campo da Fabril, por uma grande quantidade de espectadores, que muito aplaudiram os dois times. ("O Jornal", 20 de setembro de 1915). O Brazil Foot-Ball Club tinha seu campo no Gasômetro - hoje, Mercado Central de São Luis.

O Novo Fabril AC agora chamado de Foot-Ball Athletic Club

Em virtude do movimento estudantil, em 1915, os remanescentes do Fabril Athletic Club retornaram às atividades esportivas, pois no dia 05 de outubro de 1915, num prédio da rua Grande, n. 220, reuniram-se “... os incorporadores de uma nova sociedade esportiva em vias de organização, sob os mesmos moldes do extinto Fabril Athletic Clube. Presidindo a sessão o sr. Joaquim M. Alves dos Santos, secretariado pelos srs. S. Bello e J. F. Belchior. Ficou deliberado que a nova sociedade se denominará Foot-Ball Athletic Club, sendo nomeada uma comissão para elaborar os seus estatutos. Instalar-se-á logo a sociedade, cuja inauguração final se marcará para breve. A sede social será na mesma propriedade em que funcionou o antigo Club Fabril Athletic”.(“O Jornal”, 04 de outubro de 1915).

As eleições do novo F. A. Club - agora, Foot-ball Athletic Club - reconduziram Joaquim Moreira Alves dos Santos - Nhozinho - à presidência do clube da Fabril, com Saturnino Bello como primeiro secretário e Humberto Fonseca, como segundo secretário.

Gentil Silva

Martins (1989) afirma que Gentil Silva esteve a um pé do novo FAC:
“Contudo, aconteceu que, para ele, o futebol deveria ser altamente popularizado, no que não estavam de acordo os associados, na sua grande maioria, embora não discordando de um dos pontos definidos: a necessidade de pugnar pelo aperfeiçoamento físico.

Não concordavam em abrir os portões para receber o grande público com pagamento de ingressos, porque o propósito do novo FAC era não vulgarizar a prática desportiva.(p. 331).

Aqueles que tinham o mesmo pensamento de Gentil deixaram o clube da Rua Grande e o Guarani tinha se esfacelado. Não foi abandonada a idéia de popularizar o futebol.

O grupo dissidente reativou o “Onze Maranhense”, com sede no Parque 15 de Novembro (avenida beira Mar), nas proximidades do Beco do Silva, em São Luis. O campo foi construído numa área livre - no Baluarte - “longe das vistas do grande mundo de curiosos e aficcionados”, informa Martins (1989).

O terreno não era cercado e reclamava muito trabalho de nivelamento e outras medidas, tendo sido tudo feito com muito sacrifício, pois o terreno era pantanoso, necessitando-se de algumas carradas de entulho, cedidas pelo intendente de São Luís, tenente-coronel Luso Torres. Nivelado o terreno, foi feita a gramagem e tudo ficou como ambicionavam. E “... nas tardes domingueiras, o povo estava reunido.

Famílias da vizinhança e outros amantes do esporte, vindos de longe, postavam-se para ver o jogo. Jogavam Brasil F. Clube, Vasco da Fama E. Clube, Santiago Esporte Clube e Fênix F. Clube. O sonho de Gentil Silva tornou-se realidade.”(Martins, 1989, p. 331).

Para esse autor, “foi, sem qualquer sombra de dúvida, Gentil Silva o responsável pela popularização do futebol em terra maranhense, no momento que, deixando as hostes do FAC, achou oportuno desenvolver a prática do apreciado esporte aos olhos do povo, num campo que, de princípio não possuía cercas”. (Martins, 1989, p. 332).

A consolidação do futebol

1917 - Nesse período, o esporte no Maranhão se consolida. Além do surgimento de várias outras associações esportivas e de clubes de futebol, inicia-se o intercâmbio com os dois Estados vizinhos, com a visita do Clube do Remo, no início do ano, e de um torneio envolvendo o Paysandu, do Pará, e o Internacional, da cidade de Parnaíba-Piauí, no final do ano.

Começam as “importações” de jogadores. Sem dúvidas, o fato mais importante para a consolidação do Foot-ball Association no Maranhão - e de outras modalidades esportivas -, foi o surgimento da Liga Maranhense de Foot-Ball, nos meados do ano.

O leitor de pseudônimo de “Texas”, escreve ao jornal “O Estado”, relatando o acontecido, ao mesmo tempo em que fazia um breve histórico da implantação do futebol em São Luís:
“Há um punhado de anos, que já ia longe”, ouvia falar de esportes no Maranhão, especialmente do foot-ball, “chegando mesmo a crer que ele existisse a esse tempo, mas” ... Afirma “Texas” que, se ele - futebol - existisse, era atacado por uma grande debilidade que o impossibilitava de progredir. Projetavam-se alguns matchs entre teams dos dois clubes existentes, mas por um motivo ou outro, não assumia o jogo as excelentes projeções que criavam.

“Texas” condenava os despeitados que diziam, boca a boca, que “... o futebol era um jogo bruto e que não merecia ser cultivado com tamanho afinco, por uma quantidade regular de moços patrícios”.

Viam um jogo bruto porque uma pequena parcela de rapazes metiam-se a executa-lo sem método algum, cometendo as maiores extravagâncias e daí sofrendo as conseqüências desagradáveis.

Mas, por que isso? perguntava-se. Os únicos culpados era esses mesmos rapazes, que se entregavam ao esporte sem uma regra sequer que os guiasse. “Passada essa temporada de desânimo, surgiu entre nós, com grandes surpresas, assentado em bases sólidas um excelente clube esportivo”, que, transpondo todas as barreiras que haviam sido edificadas para embaraçar os passos do foot-ball começou logo “arrebanhar para o seu sítio uma porção de rapazes dispostos a trocar e a desenvolver o sensacional jogo”. “D’hai existir a temporada sportiva maranhense, cujo pavilhão foi valentemente desfraldada pelo F. A. Club, que ainda vive, são e forte”..

Com os maranhenses começando a compreender o verdadeiro desenvolvimento “não só o intelecto, mas também o físico, através da prática do esporte”, o futebol começa a servir como o elemento aglutinador da juventude. Os clubes começam a surgir, tornandose cada vez mais chic e atraindo a atenção das senhoritas. O football deixava de ser uma coisa bruta. O Maranhão contava já com nove clubes constituídos oficialmente. “Mas faltava ainda uma medida alta que merecia ser posta em prática, com urgência, para que o desenvolvimento do jogo bretão, aqui, fosse mais além. E essa medida não se fez por esperar muito. Não se fez esperar muito, afirmam, porque ahí a temos, unificando, num grande abraço maternal, todos os clubes locais que lhe são filiados, a Liga Maranhense de Foot-Ball”. (“O Estado”, 16 de abril de 1917).

Neste sentido específico certos esportes apareceram como elemento de diferenciação do estilo de vida. A prática esportiva tornava-se um indicativo de pertencimento social, tendo em vista que a prática de certas modalidades (tênis, crickt, crockt, remo) estava condicionada, no Maranhão, à participação em associações esportivas (os clubs), enquanto outras (futebol) vinham alcançando uma maior difusão social, irradiando-se por todos os lados.

Os primeiros jogos interestaduais

Muito embora Dejard Martins se refira a um primeiro Torneio Maranhão-Piauí-Pará de Futebol, com as participações do Internacional Futebol Clube (Piauí) e do Paysandu Sport Club (Pará) - patrocinado pelo Foot-ball Athletic Club - o que houve foram jogos distintos, entre Paysandu e FAC, primeiro, depois Internacional x Paysandu, e depois Internacional x FAC, pois a delegação do Piauí não chegou a tempo para o início das competições (“O Estado”, 11 de dezembro de 1917).

O Internacional jogou duas vezes contra o Paysandu, perdendo ambas as partidas por 15 x 0 e 9 x 0. Já contra o FAC, o resultado foi FAC 8 x 2 Internacional; a segunda partida, Internacional 4 x 1 FAC. Os jogos entre FAC e Paysandu terminaram, FAC 0 x 7 Paysandu, o primeiro. Havendo empate em 2 x 2 no segundo. Em 11 de dezembro, o Internacional ainda estava sendo esperado.



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Fontes: DA COSTA, Lamartine (Org.) - Atlas do Esporte no Brasil - Rio de Janeiro - CONFEF, 2006; Citações de notícias de jornais (1905 – 1917) adotadas no texto, seguidas das respectivas referências; MARTINS, Djard Ramos. Mergulho no Tempo. São Luís: Sioge, 1989.
Pesquisas de Leopoldo Gil Dulcio Vaz - professor de educaçao fisica, pesquisador-associado do Atlas do Esporte e socio do IHGM. Página adicionada em 01 Março 2009 - revisada em 13 Julho 2025.