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EC Radar


Esporte Clube Radar ESPORTE CLUBE RADAR
Fundado em 23 ou 25 de dezembro de 1952
(Artigos na internet citam como fundado na década de 30)
Endereço: Sede própria (1982) Rua Marechal Mascarenhas de Morais, 191, bairro de Copacabana, Rio de Janeiro/RJ
Site oficial: n/d


+ Clubes Brasil + Futebol Feminino

 

O Supertime do futebol feminino do Brasil nos anos 1980

EC Radar - Copa Internazzionali di Club
Equipe campeã da Copa Internazzionali di Club", na Itália, que corresponde ao "4° Mundialito de Clubes".

Eurico Lyra com o 56 troféu do EC Radar
Eurico Lyra com o 56° troféu do EC Radar - O 4° Mundialito de Clubes, realizado na Itália.

O Radar foi fundado em 1952 para a prática do futebol de areia nas praias do Rio de Janeiro. Só em 1981 aderiu ao futebol de mulheres. Inicialmente nas areias de Copacabana e, a partir de 1981 (no mês de outubro), no futebol de campo.

Formado para este esporte pelo advogado Eurico Lyra Filho, que fora administrador dos bairros de Copacabana e do Leme, chegando durante a década de 1960 a assumir a Federação Carioca de Futebol de Areia. O primeiro time de futebol feminino do Radar teve como base as melhores jogadoras e o treinador Almir, da equipe do American Denim - uma grife de roupas.

A nova equipe inovou ao conseguir a parceria com grandes patrocinadores, cunhando suas marcas junto ao nome oficial: Radar/Le Coq Sportif; Radar/Unibanco; Radar/Mondaine; entre outros.

O clube possuía luxuosa sede na Rua Marechal Mascarenhas de Morais 191, no mesmo bairro onde tivera origem. O prédio de três andares durante a década de 1980 foi totalmente destinado só ao time das mulheres. O local possuía uma piscina utilizada tanto para treinamentos das atletas quanto para os coquetéis que eram lá realizados.

Foi o maior clube de futebol para mulheres na década de 80, ganhando tudo que disputava. Em 1982, as meninas do Radar tornaram-se as primeiras mulheres da América Latina a pisar em campos europeus de futebol. Em 1988, representou a Seleção Brasileira no Mundial experimental da FIFA realizado na China com a participação de 12 seleções, ficando com a 3ª colocação. O clube não possuia campo e utilizava as dependências da Casa do Marinheiro, na Avenida Brasil. Encerrou suas atividades no ano de 1989.

Considerada também como a melhor equipe de futebol de mulheres do país na época, o Esporte Clube Radar caracterizou-se como um dos primeiros clubes de futebol feminino a oferecer ajuda de custo às jogadoras que faziam parte do escrete. Em 1985, a média salarial das jogadoras do Radar variavam entre 70 000 e 150 000 cruzeiros - ainda assim representava menos de um salário mínimo.

A Fundação do Radar

(Segundo o Tribuna da Imprensa do RJ e Jornal do Brasil)

Em dezembro de 1952, em uma noite de Natal (segundo a Tribuna da Imprensa), e dia 23 de dezembro (Jornal do Brasil) na casa da dona Yola, mãe de Eurico Lyra Filho, uma turma de garotos decidiu formar um clube de futebol, um clube de esquina. Com Eurico Lyra à frente, a turma inicialmente utilizou o quarto de apartamento de Eurico como sede, na Avenida Atlântida, depois alugou uma pequena casa na Rua 5 de Julho, em Copacabana, para ser a primeira sede do clube Radar, em 1953. Nesta época, o futuro ministro da Previdência Social, Rafael de Almeida Magalhães, jogava no time de futebol do Radar e, segundo Eurico Lyra, "era um excelente atleta, atuando sempre no meio de campo". Também jogou pelo clube Alvaro Santos, o Alvinho, presidente do Metrô, que era um excelente meia recuado.

Ainda em Copacabana, "a turma da dona Yola" transferiu sua sede para a Rua Júlio de Castilho, onde permaneceu até chegar aos 5.000 m2 da sede, na Rua Marechal Mascarenhas de Moraes.
"Na época fui considerado louco. Afinal, construir um clube em Copacabana era coisa de visionário. Pois bem, mergulhei fundo na idéia e a sede foi saindo aos poucos, com recursos de minha família e na base do livro de ouro. Aliás, os comerciantes tinham verdadeiro pavor de mim e chegavam a fechar as portas quando me viam". (Eurico Lyra, em depoimento ao Jornal do Brasil de 18-01-1985).

A primeira camisa do time, ainda na base do pano de tecido, abotoada na frente e improvisada foi confeccionada pela mãe de Eurico.

Fundado em Copacabana, o Radar se confunde com o próprio bairro e, como assegura seu sócio n°. 1, "não há um morador que não conheça o clube". Apesar de fama nacional que o futebol feminino está prometendo, o clube Radar também já se destacou em outras modalidades esportivas:
● Foi campeão carioca de Judô em 1960;
● Campeão do Torneio Rio/São Paulo de vôlei em 65, quando todas as suas jogadoras participavam da seleção brasileira;
● Tricampeão brasileiro de futebol de salão em 1962/63/64.
● Ainda, segundo o Jornal do Brasil, de 19 jan 1971, o Radar conquistou o III Torneio Brasileiro de Futebol de Praia (os três titulos invicto, 1969/70/71), ao bater o Delfim Verde, do Estado do Rio por 2 a 0 (jogo realizado no Leme, em 16-Jan-1971). Os jogadores que participaram da campanha foram: Bayard, Cabral, Fernando, Careca, Samuel, Lindolfo, Nandoca, Guilardo, Robert, Luis Jorge, Nena, Paulo Renato, Czibor, Pineiro, Marcos, Palito, Duda, Zequinha e Lula, que também foi o técnico.
Fonte: Tribuna da Imprensa / RJ, de 23 e 24 de agosto de 1986, matéria de Lourdes Doria; e Jornal do Brasil, de 18 de janeiro de 1985.

A Trajetória e introdução do futebol feminino

O futebol feminino só entrou para os quadros de esporte do Radar no final de 81, com um time de praia, onde as jogadoras pertenciam à classe média alta. Curiosamente, quando o time feminino do Radar começou a se envolver em competições, com o futebol de campo, o time anterior desapareceu para dar lugar a atletas vindas das classes carentes.

Em busca de um time cada vez mais perfeito tecnicamente, o Radar/Pão de Açúcar (em virtude do patrocínio), mais do que jogar em outros Estados, observava suas atletas e convidava as que mais se destacassem. Sem nenhuma proposta milionária para atraí-las, as jogadoras vêm para o Rio pelo fascínio de jogar no melhor time de futebol feminino e, quem sabe, pelo próprio fascínio que o Rio exerce por sua fama de "ter as oportunidades". Hoje (em 1986), como afirma Eurico Lyra, "as jogadoras de outros Estados é que procuram o Radar/Pão de Açúcar, através de cartas, para pedir uma oportunidade de jogar em seu time".

O time feminino do Radar reforçou, em pelo menos três continentes, a imagem do Brasil como favorito no futebol com uma campanha, no mínimo, brilhante. Desde que foi fundado, há cinco anos, o Radar fez 267 jogos, obtendo 243 vitórias, 19 empates e cinco derrotas. Entre esses jogos 44 foram contra times do exterior, que venceram as brasileiras do Radar apenas três vezes e empataram duas vezes.

No Brasil, o Radar/Pão de Açúcar é campeão carioca e campeão brasileiro desde 83. No exterior, o time inaugurou sua campanha participando dos torneios que foram promovidos paralelamente à Copa do Mundo como o da Espanha, em 82, quando se tornou campeão invicto. No ano seguinte, o Radar ganhou a taça do I Torneio Internacional de Suriname. Neste ano, o Radar brilhou mais uma vez nos torneios comemorativos da Copa do México e, recentemente, conquistou um dos títulos mais importantes do futebol feminino: "A Copa Internazzionali di Club", na Itália, que corresponde ao "Mundialito de seleções".

Reconhecendo o "maravilhoso futebol" do Radar/Pão de Açúcar, o presidente da Fifa, João Havelange, endereçou uma carta ao presidente do clube, garantindo o seu lugar na Copa da categoria em 88. Segundo a carta de Havelange, a realização deste campeonato "já é uma decisão do Comitê Executivo que preside". O 1°. Campeonato Mundial de Futebol Feminino deverá contar com 12 ou 16 seleções de diversos continentes e será realizado por convites da Fifa. "João Havelange considera o Radar o embaixador do futebol feminino no Brasil", completou o presidente do time já favorito.

Flâmula (de 1985) do time Radar com três títulos conquistados no futebol feminino
Flâmula do EC Radar com os três títulos conquistados no futebol feminino
No mês de outubro de 1981, o Radar por meio de seu então presidente Eurico Lira, montou o primeiro time de Futebol Feminino que rapidamente se tornou dominante no cenário brasileiro. Este objeto pertence a Leda Maria e integrou a exposição temporária do Museu do Futebol "CONTRA-ATAQUE! As Mulheres do Futebol", de 2019. Fonte: museudofutebol.org.br/crfb/acervo/708589/

Uniformes do EC Radar

Linha do Tempo

1981- neste ano, o Esporte Clube Radar do RJ implantou o Futebol Feminino, fato que deu repercussão à modalidade.

1982 O E.C. Radar foi o primeiro clube a excursionar pelos EUA e América do Sul, e para reforçar a equipe nos amistosos, contou com a fusão de jogadoras dos clubes Federal e Pump Iron, ambas do RJ.

1983 Realização do 1º Campeonato Carioca de Futebol de Campo Feminino. A partida final foi entre as equipes do Bangu e do E.C. Radar, ocorrendo durante o jogo um desentendimento que teve forte repercussão na mídia, devido à violência do conflito.

1983 Também neste ano, com a presença de aproximadamente 5.000 expectadores por partida, foi realizado, no RJ, o Copertone Copacabana Beach, que contou com a participação de quatorze clubes, inclusive com equipes internacionais da França, Portugal e Espanha. Este evento teve ampla cobertura da imprensa.

1983 Realizou-se, outrossim, a 1ª Taça Brasil, sendo o E. C. Radar campeão.

1983 Em abril o FF é reconhecido no Diário Oficial como esporte, ao se publicar uma resolução do CND.

1983- Invicta há 119 partidas (desde outubro de 1981) a equipe feminina do Radar será patrocinado pelo BRJ. O contrato de publicidade, no valor de Cr$ 2 milhões mensais, foi assinado ontem à tarde, em coquetel que contou com a presença do presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Otávio Pinto Guimarães, e dos representantes de todos os clubes que disputam o Campeonato Feminino do Rio, no qual o Radar é o líder isolado.
Eurico Lyra, diretor do Radar, disse que o contrato ajudará a compra de material esportivo e viagens da equipe ao exterior. (Jornal do Brasil, 25-11-1983).

1986 O E.C. Radar excursiona pelo México e pela Itália. Pela primeira vez na história do Estádio do Maracanã, mulheres fizeram a preliminar do clássico Fla x Flu, disputando a final do campeonato carioca de FC, quando o E. C. Radar sagrou-se tetra campeão contra a Portuguesa.

1988 Por não haver uma seleção brasileira oficial, o E.C. Radar representou o Brasil jogando nos quatro continentes, inclusive representou o Brasil no 1º Torneio de FCF realizado na China.

A Revista Placar dedicou muitas matérias sobre o clube. Abaixo as mais importantes:

● Em 01 de fevereiro de 1985, a matéria chamou as garotas de AS INVENCÍVEIS
O Radar, um time que só perdeu dois jogos na vida, quer agora ser campeão do mundo

O Radar, bicampeão carioca e brasileiro de futebol feminino, que perdeu apenas dois jogos desde que foi criado em 1981, terá boas chances de enriquecer seu invejável currículo a partir desta quarta-feira, dia 30. Éque começa , no Rio de Janeiro, o chamado Campeonato Mundial de Clubes de Futebol Feminino Nota: o nome oficial é Torneio Internacional de Futebol Feminino), que reunirá o Ajax Soccer Club, campeão da Califórnia, o Frankfurt, da Alemanha Ocidental, e as seleções da Argentina, Chile e Suriname.

Americanas, alemãs e argentinas são, com as meninas do Radar, as favoritas deste campeonato. Mas as cariocas têm um retrospecto capaz de meter medo em qualquer adversário: em 183 jogos, venceram 166, emapataram 15 e só perderam para o Bangu e a Seleção do Pará. O Radar já marcou 557 gols e levou 58. No ano passado, o time sofreu um único gol, ironicamente um gol contra da zagueira Jurema.

Se normalmente o Radar já é uma parada indigesta, na certa vai duplicar as dificuldades dos adversários neste campeonato. As moças estão treinando desde o ano passado, em regme de concentração, na Casa do Marinheiro, e costumam fazer coletivos contra um time de marujos. Eles começam jogando com medo de machucá-las e, quando percebem, já estão perdendo de goleada. "Um dia desses, um marujo siu do treino antes de acabar, irritado com a derrota", conta o técnico João de Souza Varela, que há dois anos dirige o Radar.

É um time com bastante força física, garante o preparador Pedro Paulo. A lateral-direita Rosa faz 3 000 m no teste de cooper em que a volante Danda e a zagueira Mary chegam aos 2 850 m - marcas consideradas ótimas. Lúcia, a centroavante, chuta muito forte com as duas pernas.

Durante esse período (entre 1983 a 1988), o Radar realizou 71 jogos; vencendo 66, empatando três, e sofrendo apenas duas derrotas. O clube teve a grande projeção ao representar o Brasil na Espanha em 1982 e teve a maioria das suas atletas convocadas para a seleção brasileira em 1988.

Títulos no Futebol Feminino
Torneio da Espanha: 1982
I Torneio Internacional de Suriname: 1983
Copa Internazzionali di Club (Itália) (4° Mundialito de Clubes): 1986
Torneio Brasileiro de Clubes: 1989
I Taça Brasil de Futebol Feminino da CBF: 1983
Taça Brasil: 1983 (Troféu Otávio Pinto Guimarães), 1984, 1985, 1986, 1987, 1988
Campeonato Estadual Feminino do Rio de Janeiro, organizado pela Divisão Feminina da Federação de Futebol do estado do Rio de Janeiro (FERJ): 1983
Campeonato Carioca: 1983, 1984, 1985, 1986, 1987 e 1988

Jogos catalogados

1983

03/Jul/1983- Radar/Mondaine 5 x 0 Goiás, final da Taça Brasil de 1983
Local: Rua Bariri, no RJ - Juiz Jorge Emiliano, o popular Margarida.
Expulsão: todo o time do Goiás, quando ainda restavam 3 minutos para o encerramento da partida.

Gols: Alice (2), Naninha, Cenira e Tilane.
Sore a partida, em uma reportagem apresentada no programa Fantástico da Rede Globo em julho de 1983, o repórter Carlos Peixoto narra as seguintes cenas:

Foi um jogo tenso. Desde o início o Radar do Rio e o Goiás não se entendiam em campo. Eliane e Leila trocaram tapas. Isso não foi nada diante do que aconteceu quando faltavam seis minutos para o final do jogo. O Radar já ganhava de 5X0. O juiz Jorge Emiliano, o Margarida, expulsou Andréia do Goiás.
Ele se arrependeu. E as goianas não se conformaram. Emiliano foi cercado e ameaçou revidar as agressões. Não intimidou ninguém. Apanhou do massagista do Goiás e levou uns tapas de Gilda. Não tinha policiamento no Estádio do Olaria, Zona Norte do Rio. E a confusão recomeçou quando o juiz expulsou todo o time do Goiás. Emiliano foi cercado de novo, só que desta vez ele reagiu. Acertou um soco em Andréia. Veja esta matéria completa aqui.

Campeonato Carioca 1983
Out/1983- Radar x Bangu, decisão, em Moça Bonita
Campeonato Carioca 1984
Na competição, o Radar marcou 91 gols e sofreu apenas um, marcado pela sua jogadora Jurema.
Out/1983- Radar x Bangu, decisão, em Moça Bonita
07/07/1984- Radar 2 x 0 São Cristóvão
14/07/1984- Radar 0 x 0 São José
08/09/1984- Radar 2 x 0 EC São José. Gols: Jurema aos 10; e Ana Aparecida aos 32 - ambos no 2° tempo.
Obs.: A goleira Margarete, ao final desta partida, está 14 partidas sem tomar gols (1 mil 260 minutos).
Radar: Margarete, Eliane, Meri, Zilda e Rozangela; Sali Pelé e Cenira; Jurema, Ana e Elzinha.
EC São José: Sara, Ilca, Mariza, Sandra e Carla; Maristela, Ivonette e Elizabette; Márcia, Maria Cinira e Maria José.

Torneio Internacional de Futebol Feminino 1985, em Cabo Frio-RJ Revista Placar (22-02-1985)
03/02/1985- Radar 9 x Seleção da Argentina
08/02/1985- Radar 0 x 1 Ajax Soccer Club. Nota: O Radar perdeu uma invencibilidade de 80 jogos.
--/02/1985- Radar 1 x 1 Frankfurt (ALE-Oc.)
Obs.: Cenira (Radar) foi artilheira da competição com 07 gls. A equipe do Radar ficou com o vice-campeonato

Amistoso 1985
29/12/1985. Radar 1 x 0 Seleção Carioca, no campo do São Cristóvão
Público: cerca de 200 pessoas. Gol: Danda, aos 30 do 1° tempo.

Copa Internazzionali di Club (Itália) 1986
Nesta competição, segundo a Revista Placar (25-08-1986), o Radar conquistou o 56° troféu em sua história.
Radar 4 x 1 Bayern de Munique (ALE)

NOTA: O time de futebol feminino do Radar jogou em várias competições adicionando o patrocinador ao seu nome:
Radar/BRB; Radar/Paõ de Açúcar.


Por Sidney Barbosa da Silva.
Fontes: Revista Placar (22-02-1985); Jornal do Brasil, de 08-09-1984, 30-12-1985; Da Costa, Lamartine (ORG.). Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro: CONFEF, 2006. e demais citadas no texto do artigo; e Arquivo www.campeoesdofutebol.com.br.
Página adicionada em 13 Outubro 2024.