Não é por acaso que o Esporte Clube Bahia foi o representante brasileiro na 1ª edição da Copa Libertadores, em 1960. A equipe de Salvador havia sido campeã da 1ª Taça Brasil do ano anterior, desbancando o favorito Santos de Pelé, Coutinho e Pepe. No arco do Tricolor estava Leonardo Cardoso, ou simplesmente “Nadinho”. Este senhor de cabelos brancos e falar pausado, que hoje conta com 82 anos, nasceu no interior do estado da Bahia, em Alagoinhas, a 108 km de Salvador. Se dependesse da família, jamais teria sido jogador de futebol. “Se eu chegava tarde em casa, levava um cascudo”, lembra sorrindo.
Ganhou o apelido de “Macho” por sua atitude e profissionalismo. Pontual ao extremo, chegava sempre com 10 minutos de antecipação aos seus compromissos. Chegou ao Esporte Clube Bahia em 1958, proveniente do Bangu, do Rio de Janeiro. Jogava com amor pela torcida que, segundo ele, “levantava os defuntos”.
Com estilo e personalidade, mudou o perfil do posto de goleiro. Com seus 1,86 m e 82 kg, Nadinho defendeu o arco do Bahia por 11 anos, entre 1958 e 1968. Numa visita ao estádio do clube, seus olhos se encheram de lágrimas e elogiou o gramado de Pituaçu. “Se estivesse assim na minha época, teria treinado o dia inteiro”. Pentacampeão baiano de 1958 a 62, Nadinho jogou também em tours pela Europa.
Para ele, a Libertadores de 1960 foi inesquecível. Lembra-se do jogo de ida, com o San Lorenzo de Almagro, disputado na Argentina, naquele distante 20 de abril de 1960. “Fazia um frio bárbaro. Para um baiano, acostumado com o sol ardente, qualquer temperatura menor que 20 graus nos deixa tremendo”, comentou sorrindo. “E a posição de goleiro é também ingrata. Se
faz calor, você sofre com as camisas de manga longa. Se faz frio, sofre também, por ficar muito tempo parado”. Nadinho recorda que os argentinos contavam com Sanfilippo. “Passava bem a bola e chutava muito bem, principalmente fora da área”. “El Nene” deu muito trabalho.
Depois de um primeiro tempo sem gols, Rossi abriu o placar para o San Lorenzo. Bahia se lançou em busca do empate. Em um contra-ataque, Ruiz aumentou para os argentinos. Porém, para tristeza do arqueiro, ainda faltava o gol do craque. Sanfilippo marcou o terceiro, de pênalti.
No jogo da volta, em Salvador, Bahia precisava vencer, como mínimo, por três gols de diferença. A equipe de Nadinho começou com tudo, mas perdeu dois goles incríveis com dois tiros do centroavante Biriba no travessão. O algoz Sanfilippo fez o 1 a 0. Os brasileiros reagiram e deram a volta no jogo no primeiro tempo. Sanfilippo lançou uma falta com perfeição, sem possibilidades para Nadinho, empatando novamente. No final, Bahia marcou o terceiro e ganhou o jogo, mas o passe foi para o San Lorenzo. O duelo entre Nadinho e Sanfilippo desta vez foi para o argentino. Curiosamente o craque portenho atuou no Bahia, entre 1968 e 1971, quando o goleiro já não estava mais no clube.
No final de sua carreira combinou os estudos de Direito com as viagens da equipe. Exerceu por muitos anos como advogado. Comparando com seu antecessor na posição, dizia com modéstia: “Lessa foi melhor goleiro que eu. Ele fazia defesas extraordinárias, se jogava pra cima de todas as bolas. Eu não. Odiava me jogar no gramado inutilmente”.
Sentado numa cadeira de sua casa, o senhor de cabelos brancos e sorriso fácil sente saudades dos duelos com o Santos. “Os tiros de fora da área, eu defendia todos. Inclusive muitos do Rei Pelé. A bola na área pequena era sempre minha. Eu respeitava o Pelé assim como ele também me respeitava”.
O Esporte Clube Bahia vestiu as cores do futebol brasileiro na 1ª edição da Libertadores. Na meta tricolor estava Nadinho, um dos melhores goleiros da equipe baiana de todos os tempos e que hoje relembra, com brilho nos olhos, esta página da história da competição mais importante do continente. “Sei que fui parte da história do futebol brasileiro.
O Bahia não chegou na Libertadores à toa. Nós procuramos representar o Brasil com dignidade. E creio que conseguimos”.