O pênalti cobrado de calcanhar
Em 04.10.1925, no campo do 25º Batalhão de Caçadores, o América FC aplicou uma goleada de 9x0 no Paysandu. O jogo foi tão fácil que um dos gols de Soeiro foi marcado de calcanhar, num pênalti cobrado de costas para o gol. Quanta humilhação! Mesmo assim, a atitude não foi considerada antidesportiva: o árbitro Adão Vieira de Carvalho validou o raríssimo gol.
Fonte:
FILHO, Severino. Piauí: 100 anos de futebol. Teresina: ed. do autor, 2005. p. 39.
O pênalti do presidente
“O pênalti é tão importante que devia ser batido pelo presidente do clube”. Essa famosa frase é atribuída, por uns, a Neném Prancha; por outros, a João Saldanha.
Sandro Moreyra conta um “causo” que nunca se saberá se é lenda ou não. No aniversário da cidade de Jequié, na Bahia, o presidente do Jequié, riquíssimo coronel da região, convidou o Galícia, da capital, para um amistoso. Quando o clube local vencia por 1x0, o árbitro marcou um pênalti que aumentaria o placar favorável.
O coronel não pensa duas vezes: invade o campo gritando “quem bate sou eu”! O árbitro explica que a regra não permite, os próprios jogadores tentam demovê-lo desse capricho quando ele alerta: “ou bato eu, ou ninguém recebe as cotas”. O argumento funcionou e ele bateu. Para fora.
Fonte:
MOREYRA, Sandro. Histórias de Sandro Moreyra. Rio de Janeiro: JB, 1985. p. 76.
Gols de nuca
Campeonato Brasileiro de 1989, no estádio Pinheirão, Atlético Paranaense e Vitória. Ao repor a bola em jogo, o goleiro Róbinson, do time baiano, acertou-a na nuca do atacante atleticano Manguinha, que marcou sem querer na vitória de 3x0.
Noutro Brasileirão, em 06.04.2003, o Bahia perdia para o Flamengo por 1x0, em Salvador. Aos 28 do segundo tempo, o goleiro Júlio César quis repor rapidamente a bola em jogo, só que ela acertou a nuca do volante Fabinho e, caprichosamente, caiu dentro do gol. Gol contra e de nuca.
Fonte: EMEDÊ. Loucuras do futebol. 3ª imp. São Paulo: Panda, 2005. p. 69.
Gol 100% contra
Em geral, todo gol contra tem participação do time beneficiado. Mas há exceções, é claro, como os gols contra marcados por goleiros – ver “Gols contra de goleiros”.
O Canto do Rio protagonizou um gol contra “puro”, em favor do Botafogo, em Niterói. Dado o apito inicial, o Cantusca deu a saída. Geraldino passou a Carango, que atrasou ao zagueiro Luciano, quando o goleiro Ricardo pediu a bola e se adiantou, para encurtar a distância. Quando Luciano chutou, o goleiro já não estava mais lá e a bola entrou. Em resumo: o Canto do Rio deu duas saídas em seguida, sem que o Botafogo tocasse a bola.
Fonte:
MENDES, Luiz. 7 mil horas de futebol. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999. p. 33-4.
A bicicleta ao contrário
Pense na jogada de bicicleta como uma cambalhota dada de costas para o gol. OK, não é uma cambalhota, mas o que importa é que o jogador, antes do lance, está de costas para a direção. Agora tente imaginar uma bicicleta com a “cambalhota” de frente para o gol: o jogador precisa acertar a bola com o calcanhar. (Mais ou menos como naquela inigualável defesa de Higuita, em Wembley, num jogo entre Inglaterra e Colômbia, conhecida como “defesa do escorpião”.)
Segundo Ivan Soter, quem inventou esse tipo de jogada foi o catarinense Manoel Pereira, conhecido pelo sugestivo apelido de Leônidas da Selva. Foi num jogo do América na Turquia. Quando a bola estava caindo na área, Leônidas tinha passado um pouco da jogada mas não pensou duas vezes: como que plantou uma bananeira e, com isso, alcançou a bola com o calcanhar e ela foi parar na rede.
Um gol de calcanhar feito de cabeça para baixo.
Fontes:
SOTER, Ivan. Quando a bola era redonda. Rio de Janeiro: Folha Seca, 2008. p. 96.
O artilheiro secreto
Final dos anos 50, início dos 60. O Ceará vai jogar contra o Arapoti, na cidade de mesmo nome. Antes de começar o jogo, William, do Ceará, avisa seu capitão Alexandre que o time local está com um jogador a menos. Como não é problema deles, começam o jogo assim mesmo.
Lá pelas tantas, escanteio para o time local. Quando a bola é alçada na área, um rapaz com o uniforme do Arapoti sai correndo do meio da torcida, entra em campo e cabeceia para o gol.
O Ceará, evidentemente, protesta. O capitão do time local explica: o pai do rapaz não quer que ele jogue, então ele se esconde na torcida e só participa das cobranças de falta e de escanteio. Alexandre reclama assim mesmo, que isso não é permitido, ao que ouve o seguinte: “vocês não acharam bom quando a gente entrou em campo só com dez?”
Resultado: gol validado.
Fontes:
DAMASCENO, Alberto. Futebol cearense: presepadas no mundo da bola. Fortaleza: ed. do autor, 2003. p. 141-2.
Gol de bengala
Nova Lima, estádio Castor Cifuentes, 30.09.1934, decisão do campeonato mineiro, entre Villa Nova e Atlético. Aos 24 do segundo tempo, Perácio marca para o Leão do Bonfim. Em meio à comemoração da torcida local, os jogadores do Galo cercam o árbitro e alegam que a bola tinha saído pela linha de fundo, mas que foi colocada para o fundo das redes pela ponta de uma bengala de um cidadão colocado junto ao gol. Só que o tal sujeito teria desaparecido...
Diante da confusão generalizada, o árbitro deu a partida por encerrada. Somente em 18.11.1934 é que foram disputados os 21 minutos finais da partida. O placar não se alterou e o Villa Nova sagrou-se campeão.
Fontes:
BARRETO, Plinio. Futebol no embalo da nostalgia. Belo Horizonte: Santa Edwiges, s/d. p. 87-92.
FREITAS, Wagner Augusto Álvares de. Villa Nova: 100 anos de glória em vermelho e branco. Belo Horizonte: ed. do autor, 2008. p. 331-8.
O drible do gelo
História famosa do irreverente atacante Dé, do Bangu. Em 25.04.1970, em jogo contra o Flamengo, quando a bola estava se dirigindo tranqüilamente em direção ao zagueiro Reyes, Dé atirou uma pedra de gelo que a desviou de sua rota e sobrou para ele mesmo marcar um gol na vitória por 4x0.
Fontes:
APPEL, Valdir. Na boca do gol. Itajaí: S&T, 2006. p. 90.
EMEDÊ. Loucuras do futebol. 3ª imp. São Paulo: Panda, 2005. p. 66.
O drible contra
É famoso o caso (lenda?) de quando Garrincha, depois de driblar três jogadores da defesa mais o goleiro, diante do gol vazio, esperou que um zagueiro retornasse para um último drible antes de entrar na meta com bola e tudo.
Mário Américo considerava Mariozinho, do Vasco, um driblador espetacular, talvez maior que Garrincha. Driblava até a sombra, mas tinha a mania estranha, um tanto sádica, de querer irritar a própria torcida cruzmaltina.
Certa vez, num jogo contra o Botafogo, que teimava em não sair do 0x0, a dez minutos do fim, Mariozinho driblou quatro jogadores mais o goleiro e ficou diante do gol vazio enquanto a torcida vascaína delirava, de pé, gritando gol. Só que... em vez de tocar para as redes, resolveu fazer o caminho de volta, driblando todo mundo de novo em direção ao centro do campo. É possível imaginar a humilhação dos adversários? E a irritação da torcida vascaína? Segundo Mário Américo, provavelmente nunca a mãe de um jogador foi tão unanimemente xingada quanto a de Mariozinho. O técnico Flávio Costa saiu atrás dele com um porrete e, é claro, o expulsou do Vasco.
Fontes:
BELLOS, Alex. Futebol: o Brasil em campo. Rio de Janeiro: Zahar, 2003. p. 91.
MATTEUCCI, Henrique. Memórias de Mário Américo. 2ª ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1986. p. 82-3.
Pesquisas de Laércio Becker – e-mail: laerciobecker(at)hotmail.com
Página adicionada em 27 de maio de 2011.