Há quem diga que foi um treino das equipes da Sociedade Esportiva Linhas e Cabos, formada por funcionários da companhia de energia elétrica Light & Power, em 23.06.1923, no campo do clube, na rua Glicério.
Uma idéia de Severino Rômolo Gragnani, presidente do clube, para compensar a imprevisibilidade dos horários de trabalho, que dependiam turnos ininterruptos de revezamento. Foram utilizados os holofotes que usavam para os serviços noturnos, que foram instalados em torres nos quatro cantos do campo. Para compensar a iluminação fraca, Severino pintou a bola de branco (originalmente, as bolas eram da cor do couro, alaranjada). Foi o que disse Rubens Ribeiro, grande pesquisador do futebol paulista, que considerou esse como o primeiro jogo noturno no mundo.
Mas, como dizia o Mestre Didi (bicampeão de 1958 e 1962), “treino é treino, jogo é jogo”. Daí que, segundo Luiz Fernando Bindi, o primeiro jogo noturno ocorreu em 1926, novamente na rua do Glicério, entre a S.E. Linhas e Cabos e a Associação Atlética República. Foram utilizados a iluminação dos galpões de manutenção da Light e também faróis de bondes direcionados para o campo. De quebra, aproveitaram uma noite de luar.
Os moradores de Guaxupé (MG) vindicam o primeiro jogo noturno, que teria ocorrido no campo do antigo Seminário São Luiz Gonzaga, na passagem de ano de 1921 para 1922. Placar: XV de Novembro 2x1 Academia de Comércio.
No entanto, tudo indica que a primeira partida noturna ocorreu mesmo é no Rio de Janeiro, conforme lembram os pesquisadores do futebol campista Paulo Ourives e Hélvio Santafé, com base em pesquisa do grande jornalista Jota Efegê (João Ferreira Gomes), publicada no Jornal do Brasil, em 02.04.1970. Foi um amistoso entre o Villa Izabel Football Club e um “Scratch Campista”, ou seja, um selecionado da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ), jogado no campo do antigo Jardim Zoológico de Vila Isabel e vencido pelo mandante por 4x0, em 05.09.1914, às 21h. Segundo consta, o campo foi (mal...) iluminado com 12 lâmpadas de 3 mil velas e, na platéia, estavam o prefeito do Rio, o então senador Nilo Peçanha, deputados e outras autoridades. Segundo os autores, foi provavelmente o primeiro jogo noturno da América do Sul.
Em 31.03.1928, no estádio São Januário, foi o primeiro jogo noturno em estádio, sob a luz de refletores (eram 65). Foi um amistoso entre o Vasco da Gama e o uruguaio Wanderers, de Montevidéu, vencido pelos cruzmaltinos por 1x0. Na preliminar, América e São Cristóvão empataram em 1x1.
Na década de 1940, para um jogo noturno entre São Paulo e Vasco da Gama, Joaquim Simão Gomes, roupeiro e vigia do São Paulo, também pintou de branco uma bola de couro. Seu trabalho foi tão bom que recebeu encomendas até do River Plate, da Argentina. Luiz Fernando Bindi considerou que essa foi a primeira bola branca do mundo. Só que, como vimos, teve aquela outra, de 1923, à qual cabe a glória desse pioneirismo.
Em resumo, podemos concluir que o primeiro jogo no Brasil foi o de 1914, em Vila Isabel; o primeiro treino em São Paulo foi o de 1923, na rua Glicério, onde foi jogada a primeira bola branca; o primeiro jogo em São Paulo foi o de 1926, no mesmo local; e o primeiro em estádio com refletores foi o de 1928, em São Januário. E o jogo em Guaxupé, de 1921, foi... o primeiro jogo noturno de Guaxupé.
Página adicionada em 03/Maio/2010.
Fontes de pesquisas utilizadas pelo autor (
Laércio Becker):
• BINDI, Luiz Fernando Bindi. Futebol é uma caixinha de surpresas. São Paulo: Panda Books, 2007. p. 64-5, 91-2.
• CUNHA, Orlando; VALLE, Fernando. Campos Sales, 118: a história do América. 2ª ed. Rio de Janeiro: Didática e Científica, s/d. p. 148.
• OURIVES, Paulo. História do futebol campista. Rio de Janeiro: Cátedra, 1989. p. 145-8.
• RIBEIRO, Rubens. O caminho da bola: 100 anos de história da FPF. São Paulo: CNB, 2000. v. 1, p. 244 e 638.
• SANTAFÉ, Hélvio. Ídolos do esporte: a história do esporte de Campos. 2ª ed. Campos: Grafimar, 2006. p. 127-8.