AceOdds últimos códigos promocionais de apostas

Matéria publicada em 31 de maio de 2008 no Jornal "A Cidade", de Ribeirão Preto/SP

Equipe do Corinthians
TIMÃO EM FOTO DE 1916, com Amilcar, Casemiro, César e Neco (em pé, primeiro à direita), que foi o primeiro ídolo da história do Corinthians.

Ele havia sido fundado apenas oito anos antes, mas já gozava de grande prestígio. Há exatos 90 anos, em junho de 1918, o Sport Club Corinthians Paulista jogava pela primeira vez na “capital do Café”, numa partida que atraiu as atenções de todos e foi considerada a mais disputada até então ocorrida na cidade.

“Será uma pugna interessante, por ter o Commercial de bater-se contra um team forte como o do Corinthians”, registrou o jornal A Cidade em 31 de maio.

Mesmo sem a mística que o transformaria, nove décadas mais tarde, no time de maior torcida do estado e o segundo do Brasil (pesquisa revista Placar, outubro de 2007), o Corinthians já havia sido campeão paulista por duas vezes (1914 e 1916).

Na edição de 4 de junho, o cronista esportivo de A Cidade enaltece a equipe visitante: “Os Corinthians Paulistas, jogadores sobejamente conhecidos como de alto valor, virão disputar jogo com o nosso Commercial. Virá completo o primeiro quadro dos laureados footballers, no qual figuram Casemiro, justamente reputado o maior keeper brasileiro, Néco, que acaba de figurar no conjunto representativo do foot-ball paulista, Bororó, Amilcar e outros valorosos jogadores”.

Medo

O Comercial, fundado em 1911, não tinha, no interior, adversários à altura.

Auto-intitulado “campeão do Interior”, só escalava o “primeiro team” contra equipes de mais renome, como o “Guarany”, de Campinas. Contra times da região, bastava escalar o “segundo team”, formado por jogadores que almejavam uma posição na equipe principal.

Mas a vinda dos “Corinthians Paulistas” acende um sinal de alerta na equipe.

“De todos os jogos que neste anno temos tido, nenhum teve a precedencia de incerteza da victoria que este consigo traz. Ninguem, com sinceridade, ponderadamente, poderá desta vez garantir que os louros, como de costume, sejam nossos”, registra o A Cidade em 6 de junho.


Esphera

Na ante-véspera do jogo, 7 de junho, o jornal traz um alerta, para que os jogadores se preocupem com conjunto, e não com as atuações individuais.

“Entre nós, não falta quem goste de, sempre que lhes é possível, tomar a esphera de um companheiro já na bocca do goal... Isso, além de feio, enfraquece enormemente o quadro. Uma vez havendo ensejo, tanto este como aquelle jogador saberão dar o tiro no momento azado. A máxima cohesão para um só fim - não se deixar vencer”, escreve o cronista.

Finalmente, no domingo, 9 de junho, “perante uma multidão que comprimia-se para assistir ao combate”, o Comercial enfrenta - e bate - “a gloriosa esquadra dos Corinthians Paulistas”.

Na avaliação do cronista de A Cidade, publicada na terça-feira, “a pugna que se travou ante-hontem foi talvez a mais renhida de quantas se tem realizado nesta cidade”.

Neco foi o primeiro ídolo da história do Corinthians

Os “Corinthians Paulistas” enfrentaram o Comercial com a seguinte formação: Casemiro/ Cesar e Nando/ Gano, Amilcar e Ciasco/ Americo, Benedito/ Bororó, Neco e Basilio.

Quatro desses jogadores (Casemiro, Amilcar, Americo e Neco) haviam sido campeões paulistas dois anos antes, em 1916. Parte deles também integrara a equipe que em 1914 conquistara o primeiro campeonato paulista da história do Coritnthians.

O grande destaque era, sem dúvida, o atacante Neco, considerado o primeiro ídolo da história corinthiana.

Neco foi o jogador que mais tempo defendeu as cores do Timão - atuou por dezoito anos, de 1913 a 1930, conquistando oito títulos paulistas, recorde que perdura até hoje.

Raçudo e briguento, encarava os adversários e às vezes, para intimidá-los, ameaçava tirar o cinto que os jogadores usavam no calção na época.

“Tira o cinto, Neco!”, gritava a torcida.

A memória do primeiro ídolo está preservada - uma estátua de Neco ornamenta o Parque São Jorge.

E 1918 também foi o ano em que o Corinthians ganhou seu primeiro campo.

Os próprios jogadores se encarregaram de limpar e aplainar o “campo da Ponte Grande”, onde hoje se encontra a ponte das Bandeiras, no bairro do Bom Retiro.

O Corinthians atuou nesse campo até 1927, quando foi inaugurado o Parque São Jorge.

Time do Comercial vai arrebatar o título de ‘Leão do Norte’

Não foi uma tarde de sorte que fez o Comercial F. C. bater o Corinthians em junho de 1918.

O alvinegro de Ribeirão Preto era um verdadeiro esquadrão, a ponto de seus jogadores serem chamados para atuar por times da capital e mesmo de outros Estados.

No mês anterior ao duelo com o Corinthians, por exemplo, três jogadores do Comercial (J. Franco e os irmãos Bertone I e Bertone II) haviam defendido as cores do São Bento, então um dos grandes da capital (havia sido campeão paulista em 1914; na época existiam dois campeonatos).

No dia 9 de junho de 1918 o Comercial bateu o Corinthians com a seguinte formação: Alvino, Henrique, Eurico/ Bertone II, Bertone I e J. Franco/ Belmacio, Orestes, Sizenando, Quinin e Oliveira.

A fama do esquadrão comercialino no final da década de 1910 se espalha pelo Brasil e dá origem a inúmeros convites - todos queriam desafiar o time da “capital do Café” que encarava e superava grandes “teams” da capital paulista.

Boa parte desses jogadores entra para a história do Comercial dois anos depois, em 1920, ao participarem da uma vitoriosa excursão por Pernambuco e Bahia.

Após seis partidas memoráveis (cinco vitórias e um empate), o Comercial retorna invicto e com o título, arrebatado dos pernambucanos, de “Leão do Norte”, o qual exibe até hoje.

“Na ala direita do retangulo, sem defesa”

Para o leitor de hoje, a crônica esportiva de 90 anos atrás soa especialmente curiosa. A seguir, trechos selecionados da matéria publicada em 11 de junho de 1918:

“As 16 horas em ponto, sob as ordens do sr. Nestor Pedrosa, juiz official da A.P.S.A., foi dado o começo ao jogo. Cabendo a sorte aos Corinthians, Amilcar, seu chefe, escolhe o lado da Beneficencia Portuguesa (o campo ficava na rua Tibiriçá, onde hoje se encontra o clube Recreativa).

Atirada a bola por Sizenando, o jogo movimenta-se (...). Os jogadores paulistanos se esforçam para marcar o primeiro ponto, e o mesmo acontece com os nossos, e a bola, em rapidos vae vens, faz com que a assistencia dobre em anciedade. (...)

Casemiro, na primeira phase, defende brilhantemente bolas perigosas. No segundo tempo, a linha do Commercial melhorou sensivelmente, tanto que, aos 15 minutos, Orestes, recebendo um passe de Belmacio, atira a bola ao posto de Casimiro, de 10 jardas; este, optimamente collocado, defende brilhantemente o seu posto, recebendo um ovação extraordinaria da assistencia; mas ao fazer a defesa, premido pelos nossos dianteiros, joga a bola perto. Zé Franco passa-a a Quinim que, bem collocado, com muita precisão, manda-a na ala direita do retangulo, marcando o primeiro ponto do Commercial”. O jogo termina um a zero para o time da casa.


Fonte: Jornal A Cidade, de Ribeirão Preto/SP, de 31 de maio de 2008.
Autor da Matéria: Nicola Tornatore.
Página adicionada em 07 de janeiro de 2010.