Na história do campeonato italiano, o time da Roma logrou o troféu máximo em três ocasiões. Embora seja um grande clube situado na capital daquele país, o seu cartel é irrisório se comparado aos de Juventus e Milan, por exemplo. Já disse alguém que para a Juventus vencer três “scudettos”, basta merecer um. Para a Roma, porém, é preciso merecer três para ganhar um. Obviamente a frase foi feita por um torcedor romano, mas a verdade não está muito distante. A desigualdade entre os títulos conquistados é impressionante, pende largamente em favor do trio Juve-Milan-Inter. Por isso hoje eu gostaria de analisar os triunfos da Roma.
A aurora desta simpática agremiação data do ano de 1927, quando uma fusão entre os times da capital, Fortitudo, Alba Audace e Roman Football Club gera a AS Roma. A partir de então, as atividades atléticas do clube correriam sempre vigorosas como as águas do rio Tevere.

O primeiro “scudetto” chega quando o continente estava sob a sombra negra da II Guerra Mundial, em 1942. Nessa temporada, os inimigos ferozes pelo caneco foram Torino e Venezia. A Roma mandava seus jogos no lendário campo de Testaccio, uma espécie de alçapão para os visitantes. Destaquemos algumas figuras marcantes daquele time. Sob os três paus a estampa imponente de Guido Masetti, goleiro de defesas arrojadas e estilo voador. Seus colegas de zaga eram Brunella e Acerbi. A linha média contava com Donati, Mornese e Bonomi e o ataque começava com o albanês Krieziu, Luigi Di Pasquale, e tinha além do capitão Amedeo Amadei, o meia Coscia e o argentino Pantó.
Uma polêmica sobre esse título é a de que ele teria sido obtido graças a um decreto de Mussolini. Os romanistas defendem-se alegando ter sido o “Duce” torcedor da Lazio. De qualquer maneira os festejos foram tímidos em razão da guerra. E a espera por outra conquista seria longa e sofrida como um calvário.
Até que em 1980 chega a Roma o meio campista Paulo Roberto Falcão, dono de toques refinados no trato com a pelota. A torcida sonhou com dias melhores. O presidente Dino Viola, um visionário que conseguiu reequilibrar as finanças da Roma, foi o grande mentor daquele time que venceria o segundo “scudetto” em 83. E no banco de reservas o técnico Nils Liedholm, ou “Il barone”, mítico ex-atacante sueco, dava as cartas. Tancredi, Nela e Vierchowod; Maldera, Ancelotti e Falcão; Bruno Conti, Prohaska, Pruzzo, Di Bartolomei e Iorio. Estes foram os onze heróis a erguer a taça. Interessante o paradoxo entre Falcão e Bruno Conti. Enquanto que “o oitavo rei de Roma”, apresentava um futebol de estilo europeu, elegante e apolíneo, Bruno Conti era um ponta direita “à brasileira”, dono de uma picardia rara entre jogadores do velho mundo. O artilheiro Roberto Pruzzo, por sua vez, era uma máquina de fazer gols e, até o surgimento de Totti, maior goleador histórico da Roma. E Agostino Di Bartolomei, bom amigo de Falcão, fruto das categorias de base e um dos líderes dentro de campo. Doces lembranças. O jogo do título foi contra o Genoa no estádio Marassi. O empate em um gol foi o suficiente para desencadear a festa amarelo e vermelha. Dino Viola, emocionado, diz que é o fim do pesadelo. Os centuriões romanos marcham novamente.
Por fim, ainda que sem ter provocado tamanho impacto, chegou o terceiro “scudetto” em 2001. Talvez motivada pelo título da co-irmã Lazio no ano anterior, a Roma realiza uma campanha irretocável. Fundamental a contratação de Batistuta junto à Fiorentina e o comando de Fabio Capello, um especialista em decisões e raposa velha dos gramados. Auxiliando o goleiro Antonioli , uma zaga bastante conhecida: Cafu e Antonio Carlos, Zago para os italianos, dividem a tarefa com o argentino Samuel e Zebina. Para fazer a bola rodar no meio campo a presença séria de Marcos Assunção foi vital, assim como a raça de Candela e Tommasi. Dos pés de Totti saíam as jogadas que resultaram nos gols de Batistuta, Del Vecchio e Montella. Aliás, além de capitão e maestro do time, Totti, “il pupone di Porta Metronia” é também famoso pelas suas gafes, tendo inclusive um livro de anedotas sobre ele. O dia D chega contra o Parma no estádio Olímpico, quando Totti, Montella e Batistuta castigam o guarda metas Buffon, dando assim, novamente motivos para uma alegre comemoração pelas ruas da cidade.