Quando a bola rola em uma partida de futebol, a maioria dos jogadores assume uma postura de entrega total. Muitos deles realmente suam sangue na disputa pela posse da pelota. Alguns encantam pela técnica e visão de jogo. Outros, pela liderança positiva que exercem sobre os companheiros. E há aqueles que são malvados. São os anti-heróis, os vilões de um espetáculo repleto de drama que é o jogo. A sua sina é quebrar a lei e, muitas vezes, machucar. Fazer o adversário sentir-se intimidado, diminuído. Na maioria dos casos esse papel cabe a um defensor. Um zagueiro.
João Evangelista Belfort Duarte, foi um abnegado sócio nos começos do América FC. Graças às muitas providências tomadas pelo jovem, esse clube obtém destaque ímpar no nosso ainda incipiente futebol. Atuando também dentro das quatro linhas, Belfort sempre foi um exemplo de postura em campo.
Quando foi criado o troféu Belfort Duarte para premiar aqueles jogadores que se sobressaíssem pelo jogo limpo, o beque Moisés do Vasco da Gama declara com convicção: “Zagueiro que se preza não ganha o Belfort Duarte”. A sua posição reflete o comportamento de muitos de seus colegas.

Como Francisco Jesuíno Avanzi . O popular Chicão (foto ao lado), atleta de Ponte Preta e São Paulo, entre outros, começou a carreira no XV da sua cidade natal, Piracicaba. Ostentava um vasto bigode que o deixava parecido com um bandoleiro mexicano. E não esmorecia jamais nas divididas. Que o diga o meia Ângelo do Atlético Mineiro. Em um dos lances da final do campeonato brasileiro de 77, Chicão, atuando pelo São Paulo, quebrou a perna do talentoso jogador do Galo. Mas, se Pelé quebrou a perna do zagueiro Procópio, a gente deduz que até os craques tem o seu dia de “caçador”. Pode ser o caso de Almir “Pernambuquinho”. Era um atacante, mas jogava com a disposição férrea de um defensor. Na final do campeonato carioca de 1966, ao sentir que o Flamengo não reverteria o placar, brigou sozinho contra todo o time do Bangu. Porém, fora de campo Almir era um boêmio de caráter simples e alegre, típico do nordestino.
E o que dizer de Figueroa? Os cotovelos mais famosos do pampa gaúcho, que com certa crueldade até, pararam tantos atacantes contrários ao arco colorado, pertenciam a uma espécie de poeta. Ele transformou a “maldade” em arte e transformou-se em um mito. Talvez por causa dos problemas de saúde que teve na infância, Dom Elias agigantou-se quando virou atleta profissional. Outro paradoxo em Figueroa, era a sua aparência de galã, contrastando com o seu jogo viril. Problema que não teve Nobby Stiles. Apelidado de “açougueiro”, esse sagaz meio campista do Manchester United, foi um dos baluartes do “english team” na conquista da Copa de 66. Sua aparência era um tanto quanto estranha. Baixinho, Stiles, quando sorria, deixava perceber a ausência de um ou dois dentes, o que provavelmente assustava os oponentes.
No basquete da NBA, também temos um exemplo clássico de um jogador conhecido pela sua crueldade. Bill Laimbeer do Detroit, um branco em um esporte predominantemente negro, era, porém, um bom arremessador da linha dos três pontos. No final da década de 80, nos dois anos em que o título foi decidido entre Detroit e Lakers, Bill Laimbeer desfilou seu repertório de brutalidades. Com a palavra “Magic” Johnson: “Fazer falta é uma coisa, mas Laimbeer tentava castigar você até o fim”. O craque do basquete continua: “Mesmo assim, fora da quadra ele parecia ser um cara legal”.
Muitas vezes, no calor da batalha, algum jogador, sofrendo com a falta de criatividade, apela para a violência. É do jogo. Também muitas vezes, ao terminar a peleja, aqueles que mais baixaram o “pau”, são figuras extremamente tímidas e bondosas. Escondido em um cenho franzido ou em um punho cerrado pode repousar um coração de ouro. Mas, até que o adversário descubra, os “malvados” da bola estarão lá, distribuindo bordoadas e pontapés, defendendo as cores do seu time com unhas e dentes. E o que seria do mocinho se não fosse o bandido?