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Loja Campeões do Futebol


O trabalho que se segue, esta dentro de um contexto que engloba o desenvolvimento político-cultural na qual, por sua vez, a sociedade se desenvolve dentro de um contexto global e esse desenvolvimento esta diretamente ligada à modernização do sistema.

Dentro do futebol, podemos acompanhar uma grande influência política na qual o esporte acaba sendo inserido dentro de um contexto cultural dentro da sociedade. Essa inclusão não está apenas inserida dentro de uma única sociedade e sim na sociedade global.

Logo da Major Soccer LeagueO Futebol atingiu uma popularidade em todo mundo que até em países como os Estados Unidos, os clubes da liga profissional de futebol – MLS (Major League Soccer) estão realizando investimentos milionários nos últimos anos contratando jogadores de expressão como o inglês David Beckham que até a última temporada estava jogando no LA Galaxy de Los Angeles e o atacante argentino Guillermo Baros Schelotto que joga no Columbus Crews, que ganhou a temporada de 2008 da MLS. Ainda nos EUA, existem clubes que são filiais de outros clubes tradicionais de outros países o que é o caso do Chivas USA que pertence ao mesmo dono do Club Desportivo Chivas de Guadalajara no México e clubes que são investimentos de grandes corporações multinacionais, no qual é o caso do Red Bull NY, da cidade de Nova Iorque, a empresa de bebida energética de mesmo nome do time, comprou o NY Metrostars e entrou na liga obtendo um honroso vice-campeonato da MLS. No Brasil o Red Bull Futebol e Entretenimento Ltda., no estado de São Paulo e disputa a 2ª divisão (equivalente a 4ª divisão) do campeonato paulista, a exemplo do Pão de Açúcar, uma das maiores empresas no ramo supermercadista do Brasil e do mundo, que conseguiu o acesso para a série A3 (equivalente a 3ª divisão) do mesmo campeonato.

O futebol também está diretamente ligado a resistências tribais e/ou nacionalista de que alguns clubes e suas torcidas se orgulham de suas bandeiras e ideologias culturais, políticas e religiosas.

O professor Carmo Gallo Neto, inicia seu texto: “O futebol como fenômeno social”, descrevendo como o futebol já faz parte do dia-a-dia do brasileiro mesclando a identidade pessoal e social com o ato de torcer. Segundo o professor, existe todo um ato ritualístico para a formação do torcedor, desde que o indivíduo nasce até o final da sua infância.

Barcelona - CatalunhaA popularização do esporte na Europa e na América do Sul se dá com a existência de clubes que representam a própria cultura de nacionalista e seus costumes. O clube se torna um estandarte de luta por uma causa; podemos citar o F C Barcelona da cidade homônima na Espanha, que representa a luta do nacionalismo catalão e que em seu escudo tem um desenho da bandeira da Catalunha e as cores do uniforme principal, vermelho e azul, da bandeira tricolor da Revolução Francesa.

Se não é verdadeira em relação aos fatos, a história o é do ponto de vista espiritual. Com efeito, a estética modernista do time deriva de sua inclinação política esquerdista. (FOER, 2004: 170).

O exemplo do Barcelona é apenas um exemplo do que o futebol é capaz de realizar dentro do comportamento de um individuo ou de uma sociedade.

Em pesquisas realizadas por alunos e professores da graduação da FEF / UNICAMP4, que fora organizado pelo professor Jocimar Daólio, realizou-se uma abordagem sócio-antropológico da relação de torcer dentro da sociedade no Brasil. Entre os brasileiros o ato de torcer, envolve aspectos de nossa cultura e crença fortalecendo a questão da superstição enraizada no cotidiano dos brasileiros (as).

A superstição se manifesta dentro da prática futebolística, talvez, por ser o esporte mais praticado no Brasil. A própria regra já favorece essa associação, uma vez que o futebol é um esporte praticado com os pés, e isso facilita e muito os resultados imprecisos, pois nem sempre o melhor time ou o que joga melhor vence. Podemos citar alguns jogos do passado que retrata o que esta sendo discutido. Quem não se lembra da vitória dos EUA contra o famoso English Team (Seleção Inglesa) na Copa do Mundo de 1950 ou do até então desconhecido Santo André na final da Copa do Brasil de 2004 que venceu o poderoso Flamengo em pleno Maracanã.

Um time tecnicamente inferior pode utilizar um esquema totalmente defensivo e marcar um gol em um lance único, às vezes no último minuto. (DAÓLIO, 2005: 12).

Rangers x Celtic - A Old FirmA paixão e o amor pelo clube de coração ou até mesmo pela seleção nacional levam a manifestação de alegria versus tristeza; brincadeira versus violência e para muitos até brigas de intolerância religiosa como a “Old Firm”5 na Escócia. A violência deve-se ao limite do imaginário com o real, aonde por muitas vezes o grito de guerra vira ação. Em uma partida, na então unificada Iugoslávia, entre o Dínamo Zagreb (Croácia) e Estrela Vermelha de Belgrado (Sérvia), na temporada de 1990/91, onde os grupos étnicos se enfrentaram abertamente, com a torcida da casa (Dínamo) tinham armazenado ácido para romper os grandes do estádio que separava a torcidas e haviam escondido pilhas de pedras para enfrentar os “visitantes” (Foer, 2005: 20 e 21).

Muita gente não se sente parte de um grupo, falta-lhes um sentimento de pertencimento. Com família desestruturada, sem emprego e dinheiro, sem perspectiva, sem mecanismo de cidadania, são tênues os limites do matar ou morrer... (Apud. DAÓLIO, 2005: 12).

No Brasil o futebol é visto como uma manifestação cultural, e de acordo com Wilson Rinaldi, aonde esse esporte se transforma em movimento social e ideológico, aonde a mídia se transforma em uma principal ferramenta para a ideologização política ou apolítica do jogo.

O futebol foi e continua sendo um elemento importante da cultura brasileira. Enquanto fenômeno social, sempre esteve em consonância com a forma de a sociedade se organizar, assim como outros elementos da cultura popular – carnaval, arte, religião, música e outros. (RINALDI, 2000: 167/168).

Para muitos o futebol só serve para desviar a atenção do povo de coisas consideradas mais sérias por nossos intelectuais, como a economia e a política. Por outro lado o futebol é a representação da luta do dia-a-dia, do povo que tem sua força de trabalho explorada pelas classes dominantes que os marginaliza. O futebol causa um fascínio onde o praticante (profissional ou amador) se sente participante da construção do simbolismo dessa luta, onde cada um se supera vencendo a dificuldade e obstáculos da vida. O torcedor também cumpre esse papel e se sente participante do jogo, se tornando o “12º jogador”, ou seja, ela trabalha dentro de uma pressão que vem das arquibancadas, seja contra os adversários ou até mesmo contra o próprio time, em que alguns casos não estão jogando bem ou não atendem as perspectivas de vitórias.

No futebol, existe uma subjetividade dentro do imaginário que o cerca no que se diz respeito as suas regras e transgressões, criando uma contradição entre o formal e o não formal, onde o jogo representa uma batalha entre dois grupos, onde um necessita intensamente vencer o outro. Aonde se usa o artifício da 'malandragem' como a prática da falta ou simplesmente a simulação, a fim de ludibriar a autoridade máxima do jogo que é o arbitro e que muitas vezes da certo.

A aproximação entre futebol e malandragem é explicada com facilidade, na medida em que as classes populares se apropriaram do futebol; o samba de origem negro-proletária teve na malandragem o seu motor temático nos anos de 1930 e 1950, logo o futebol, samba e malandragem constituem a matriz cultural das classes populares no Brasil. (SOARES, 1994: 8).

Com popularidade do futebol, associada com a imprensa, o esporte passa a representar, a partir dos anos de 1930, uma grande oportunidade de se chegar à massa, sendo muito usado pela classe dominante da época, dando ao futebol sua concessão ideológica. No Brasil, iniciava o movimento populista com a ascensão de Vargas ao poder máximo da República brasileira, aonde teve uma grande influência inclusive no estado de Goiás com Pedro Ludovico Teixeira assumindo a intervenção do governo do estado, transferindo à capital e a estimulação do surgimento dos clubes da nova capital, que será mais bem explicada posteriormente nesse trabalho.

O futebol se mostra ideológico, quando sua imagem é explorada como demonstração de superioridade de um determinado grupo sobre o outro ou de uma determinada Nação sobre a outra, nos casos de jogos de selecionados nacionais.

Existem exemplos na história contemporânea que o futebol foi usado como aparelho de propaganda ideológica oficial de um governo, como por exemplo, em 1938, onde em plena ditadura de Mussolini a ‘azurra’6, que levou o bicampeonato mundial da Copa do Mundo da FIFA (DVD 100 anos da FIFA 1904-2004 Volume 2), fortalecendo o regime fascista. Porém no mesmo torneio a Alemanha de Hitler foi com os jogadores austríacos (a Alemanha tinha invadido a Áustria) com o chamado 'supertime' que usavam no uniforme do selecionado alemão a suástica do Partido Nacional Socialista Alemão (o Partido Nazista), querendo simbolizar a superioridade racial dos alemães. Por ironia não passou da fase inicial do torneio, mostrando que nem sempre a propaganda é eficaz.

No Brasil a Copa do Mundo de 1938, ganha uma atenção especial, justamente para desenvolver a propaganda pró-varguista usando mais uma vez o populismo como uma alternativa de apoio pró-seleção que encarnava ali uma metáfora do período desenvolvimentista do próprio país, representado pelo apelo da CBD (Confederação Brasileira de Desportos) 7 em campanhas de propagandas onde todo o povo era convocado juntamente com os jogadores para a disputa da competição na França (Rinaldi, 2000: 169). Essa campanha em favor da seleção representa uma idéia de formação de uma identidade nacional, aonde o futebol, era de fato, adorado como manifestação político-cultural, ainda que sobre manipulação das massas.

Simbolicamente, reforçou-se a idéia de que aquela não era uma simples disputa esportiva e, sim mais uma provação com intuito de mostrar a força do Brasil, do seu povo, através do futebol... Esse momento de afirmação da nacionalidade foi um sucesso, apesar da derrota para a seleção italiana. Enfim o destino do país encontra-se nos pés de um time de futebol... (NEGREIROS 1997: 215).

No ano de1970 o presidente Médice pediu a convocação de Dário Pereira (Dadá Maravilha) para a seleção que iria a Copa do Mundo. O então técnico João Saldanha retrucou o presidente, afirmando que o presidente deveria escalar o ministério e que a seleção era preocupação da comissão técnica. Por conta dessa afirmativa, Saldanha foi demitido às vésperas do Mundial do México e em seu lugar foi chamado Zagalo que convocou o Dário para o selecionado que viria a conquistar o tricampeonato da Copa do Mundo naquele ano. Mais uma vez, a propaganda ideológica demonstrou um sucesso, aonde não se admitia outro resultado que não fosse o título e a conquista em definitivo da taça ‘Jules Rimet’8 que anos depois viria ser roubada na sede de CBD.

Oito anos depois a Argentina organizou a Copa do Mundo, no ano de 1978, e era questão prioritária do governo argentino, além de organizá-la, ganha-la para que a popularização da ditadura militar9 fosse fortalecida naquele país, como se a paixão pelo esporte fosse capaz de resolver qualquer diferença social, política e econômica. Por conta da questão imposta pelo governo argentino, algumas suspeitas foram colocadas, referente ao resultado do jogo da Argentina contra o Peru, na qual o final da partida foi um estrondoso 6 a 0 para o time local, eliminando o Brasil no saldo de gols. O Brasil jogou mais cedo, ou seja, a Argentina entrara em campo sabendo o que deveria fazer para se classificar, lembrando que o goleiro do Peru (que entrou com o time reserva) tinha nascido na Argentina e jogava pela seleção peruana, por conta de sua naturalização.

O futebol demonstra ser mais que um jogo. Muitas vezes o futebol representa uma auto-afirmação de um grupo ou de um povo. Não é a toa que o esporte é o mais popular do planeta. Talvez pela sua forma de jogar ou até suas regras que permite a prática em qualquer ambiente. O futebol se caracteriza pelo antagonismo da simplicidade com a complexidade do jogo, aonde seu praticante permite que seu entusiasmo tome conta de sua racionalidade e que estatisticamente, é o esporte que mais possui resultados improváveis, as chamadas “zebras”. Por isso que, para muitos, o futebol se confunde com sua própria vida, transformando assim esse esporte em uma metáfora de sua história.


Fontes de pesquisas utilizadas pelo autor (Frederico Machado):

Página adicionada em 30/Agosto/2010.