
Para quem gosta de um bom conto de fadas, nunca é demais lembrar a história de “O Pequeno Polegar”. Um pobre lenhador da floresta tinha sete filhos, e o caçula, como costuma ser, era o menor e o mais esperto da prole. Sempre usando um gorro vermelho na cabeça, o personagem principal dessa bela aventura enfrentou gigantes e outras criaturas malvadas em suas andanças. Muito bem. Nos anos 50 do século passado, a lenda virou realidade, quando Luiz Trochillo vestiu a camisa do Corinthians. Além de inteligente jogador, Luizinho era baixo e escorregadio, qualidades que fizeram dele o “Pequeno Polegar” alvinegro. Seus colegas naquele fabuloso time também tinham apelidos vistosos, como, por exemplo, Baltazar, o “Cabecinha de Ouro”, ou Cláudio, o “Gerente”.
Quando o Corinthians conquistou o título paulista de 1954, poucos podiam imaginar que um longo caminho de derrotas estava começando. Um caminho de trevas tão densas que nem o mais astuto herói das tramas infantis pôde iluminar.
Em 1955, um surpreendente Santos ficou com o título paulista. Logo depois, com o surgimento do garoto Pelé, formou-se a equipe que contribuiria muito para alongar o calvário corintiano. No campeonato estadual o esquadrão peixeiro era quase imbatível. Ainda assim, Palmeiras e São Paulo conseguiram, vez por outra, quebrar a hegemonia santista. Enquanto isso o “Timão” via os anos passarem sem colocar taça alguma em seu armário. A fotografia dos campeões de 54 já estava ficando desbotada. Luizinho pendurara as chuteiras e o novo xodó da torcida respondia pelo nome de Roberto Rivellino. Não resta dúvida de que grandes nomes vestiram a jaqueta mosqueteira nesse período, como Oreco, Ditão, Flávio e Paulo Borges , só para citar alguns. Mas, quem quer que fosse o responsável pelo timão da nau alvinegra só encontraria águas bravias em seu horizonte.
O mundo já era outro quando finalmente, em 1977, o Corinthians acabou com o jejum de títulos ao vencer a Ponte Preta na decisão do campeonato paulista. Foi uma final para lá de polêmica, com o juiz linha dura Dulcídio Wanderley Boschillia expulsando o atacante Rui Rei logo no início do jogo, o que, sem dúvida, castrou o time interiorano. De qualquer maneira, o sufoco era tanto que uma hora teria que acabar. Foram vinte e três temporadas de agonia.

Situação semelhante viveu o Botafogo. O alvinegro carioca já amargara uma grande seca em sua história: de 1910 a 1930 o time não botou faixa no peito. Mas eram outros tempos, o amadorismo imperava e o Botafogo só havia vencido um título antes de 1910. Foi em 1907 e, ainda por cima, dividido com o Fluminense. Em 1968, porém, o Botafogo já era o Botafogo que tinha dado ao mundo Garrincha, Quarentinha e Nilton Santos. Ao derrubar o Vasco na final do campeonato carioca daquele ano, o clube de General Severiano abriu as portas de um quarto escuro, de onde só sairia vinte e um anos depois. Na ocasião daquela conquista derradeira, despontavam como promessas os jovens Jairzinho e Paulo César, além dos talentosos Gérson e Roberto Miranda, todos jogadores de seleção brasileira. De uma hora para outra tudo terminou e o Botafogo passou a vagar cegamente pelo breu de uma era sem títulos.
Coube a Maurício de Oliveira Anastácio o papel de Teseu, conduzindo a sofrida massa botafoguense até a saída do labirinto. Foi no dia 21 de junho de 1989, na final do campeonato carioca. O adversário era o Flamengo dos craques Zico, Renato, Bebeto, Zinho e Aldair. A partida foi marcada pela tensão, até surgir o lance capital do jogo: Maurício aproveitou um cruzamento de Mazolinha e empurrou suavemente o couro para as redes, disseminando pânico na defesa rubro negra e dando o tão sonhado título ao Botafogo. O time que ficou plasmado na história é o seguinte: Ricardo Cruz, Josimar, Wilson Gottardo, Mauro Galvão e Marquinhos; Carlos Alberto Santos, Luisinho e Vitor; Maurício, Paulinho Criciúma e Gustavo, que foi substituído pelo já citado Mazolinha no decorrer do jogo. Loas também para o técnico Valdir Espinosa, que com serenidade e determinação acreditou na possibilidade da façanha.
Depois da tempestade, a bonança. Foi assim com Corinthians e Botafogo, dois dos mais tradicionais representantes do nosso futebol. Apesar do longo e desafortunado caminho por entre pedras e espinhos, a redenção finalmente chegou. E com ela a alegria do torcedor, sempre fiel ao seu time na espera por dias melhores.