Assim como o Dia da Sogra, quase ninguém se lembra de comemorar o Dia do Goleiro. Portanto, nada mais justo do que prestar essa homenagem antecipada ao jogador que na maioria das vezes (a não ser quando é o goleiro do nosso time), impede o grito de gol das torcidas mundo afora. Aquele que se impõe como o próprio contra-senso do futebol, capaz das defesas mais improváveis aos frangos mais humilhantes.
Chamado também de arqueiro, guarda-metas ou guarda-redes, herói ou vilão, é personagem singular no campo de jogo. Se antigamente ser goleiro era para quem não sabia jogar na linha, atualmente fala-se em vocação para atuar “debaixo dos paus”, na linguagem dos boleiros.
Há casos de goleiros que não saem da nossa memória. Como não se lembrar dos belgas Preud’homme e Pfaff ou dos italianos Zenga e Dino Zoff? Todos grandes goleiros, assim como o espanhol Zubizarreta e o alemão Schmeichel.
As lembranças de Taffarel pegando pênaltis em 94 e 98 comprovam que já há algum tempo, o Brasil, outrora criticado por não revelar bons goleiros, mudou essa imagem. Basta verificar a quantidade e a qualidade de goleiros brazucas atuando em campos estrangeiros.
Não é de hoje que o Brasil vem produzindo magníficos goleiros: Castilho, Gylmar dos Santos Neves, Manga, Leão, Raul, Taffarel, Marcos,
Rogério Ceni, Júlio César.... Desde Barbosa, nosso goleiro em 1950, até os dias de hoje, o Brasil evoluiu muito na posição, podendo ser considerado hoje um celeiro destes jogadores. O próprio Barbosa, crucificado na derrota para o Uruguai na copa supra-citada, era um excelente goleiro, nas palavras do mestre Armando Nogueira: “Certamente, a criatura mais injustiçada na história do futebol brasileiro. Era um goleiro magistral. Fazia milagres, desviando de mão trocada bolas envenenadas. O gol de Gighia, na final da Copa de 50, caiu-lhe como uma maldição.”
E como não falar de Rinat Dasaev, arqueiro da extinta União Soviética? Embora tenha sofrido com a seleção brasileira na Copa de 82, era um daqueles guarda-metas que ganhava os jogos com suas defesas. Dos que vi atuar, o mais completo. Frio e decisivo, rápido e explosivo, técnico e enorme.
Certos goleiros, mais do que inesquecíveis, marcaram época em sua geração e são e serão lembrados eternamente. Gordon Banks foi o inglês que, na Copa de 70, defendeu a cabeçada indefensável de Pelé; atuou no English Team entre 1963 e 1972, ano em que, devido a uma fatalidade, um acidente automobilístico o fez perder parte da visão de um olho, abreviando sua gloriosa carreira.
Ladislao Mazurkiewicz também disputou a Copa de 70 pelo Uruguai, além das copas de 66 e 74. Até hoje é tido como o melhor goleiro uruguaio de todos os tempos; defendeu o Atlético Mineiro e o Penarol-URU. Às vesperas da copa de 70, era considerado o melhor do mundo. No Brasil x Uruguai da mesma copa, foi protagonista de um lance inesquecível: sofreu um drible desconcertante de Pelé, na entrada da área, que acabou chutando para fora.
A Alemanha, país tradicional na posição de goleiro, revelou ao mundo Seep Mayer. Excelente técnica, defesas arrojadas e um reflexo impressionante, fizeram do “anjo irônico” um dos melhores jogadores da Copa de 74, quando a Alemanha Ocidental, com um time inferior a Holanda, sagrou-se campeã, graças principalmente as várias defesas do “gato”, outro de seus apelidos.
Impossível não falar de
Lev Yashin. O “Aranha Negra” tinha esse apelido devido ao seu uniforme sempre todo preto; segundo a lenda, Yashin defendeu cerca de 150 pênaltis em toda a carreira, além de não ter sofrido gol em 270 jogos. Para se ter a verdadeira dimensão da importância do arqueiro russo, basta dizer que em 1971, quando se aposentou, a FIFA resolveu homenageá-lo com uma medalha de ouro especial, por sua extraordinária contribuição ao esporte.
Não apenas grandes goleiros, mas também folclóricos, não necessariamente nessa ordem. Como não recordar o mexicano Jorge Campos? Espalhafatoso no campo e na indumentária, gostava de jogar na linha e cobrar penaltis, além de ser baixo para a posição.
René Higuita, goleiro colombiano, ficou mais conhecido pelo seu estilo irresponsável de jogar do que pelas belas defesas, embora tenha dado nome a “defesa do escorpião”, em que se jogava para frente defendendo a bola com os pés. Ganhou manchete mundial na Copa de 90 no jogo contra Camarões, quando tentou driblar Roger Milla e perdeu a bola, ocasionando o gol que eliminou sua seleção.
E o que dizer de José Luis Chilavert? Extrovertido, provocador e artilheiro, o goleiro paraguaio se detacou por marcar 63 gols em sua carreira, sendo 45 de penalti, 15 de falta e 3 com a bola rolando; atuou na seleção de seu país e no clube argentino Velez Sarsfield, onde ganhou vários títulos, entre eles a Libertadores e o Mundial Interclubes.
Cada qual a seu tempo, com seu estilo e a sua maneira, todos marcaram e marcam gerações. Transformaram-se em verdadeiros ícones, ídolos e referências para o torcedor de futebol. Elaborei uma pequena e modesta lista dos 10 maiores goleiros, incluindo apenas os que vi jogar: 10º. Zubizarreta; 9º. Pfaff ; 8º. Van der Sar; 7º. Petr Cech; 6º. Schmeichel; 5º. Julio César; 4º. Buffon; 3º. Taffarel; 2º. Preud’home; 1º. Rinat Dasaev.